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Neto de aluguel

Laura Medioli fala sobre um neto de aluguel. Leia mais

Por Laura Medioli

Publicado em 14 de outubro de 2023 | 03:00

 
 
Laura-Medioli Laura-Medioli Foto: Acir Galvão
Laura Medioli
Colunista de Opinião
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Há uns cinco anos, minha filha me deu de aniversário um envelope com um cartão escrito: “Vale um neto de aluguel”.

Abaixo, o nome do suposto “neto” com o telefone de contato.

– Filha! Que diabo é isso? É para eu ir já treinando? – disse brincando, pois na ocasião ainda não tinha netos.

Descubro que a criatura era um jovem, possivelmente bem jovem, nerd tecnológico, com a maior paciência do mundo para explicar às “avós emprestadas” tudo sobre tecnologia, mídias sociais e todos aqueles recursos incríveis de nossos computadores e celulares.

Como as filhas nunca têm tempo e muito menos paciência para explicar, gostei da ideia.

– Será que ele entende de iPhone? Tem um monte de coisas ali que não sei para que servem.

– Claro, mãe! Entende tuuuudo de celulares.

– Outro dia quase deletei o WhatsApp sem querer – comentei. – Quer dizer, eu acho. Não sei o que fiz, mas ele sumiu do meu celular. Tentei voltar, e o negócio só piorava. Fui perguntar pro Google. Com as várias informações, muitas explicadas em termos técnicos, como Android, iOS, nuvem, me perdi no caminho. Fiquei desesperada, pois não dá para viver sem o Zap, né, filha?

– Mãe!!! Pelo amor de Deus! Liga logo pra esse cara! – interrompeu-me, rindo, antes que eu falasse mais besteiras, na concepção dela, claro!

“Vai ser bom porque ele deve entender de TV a cabo também”, penso empolgada. Afinal, quando o Wi-Fi, modem, Net, sei lá o quê, dá pau, para tudo! A televisão é um trambolho, e eu e meu marido, arrastando o móvel, ligando e desligando botões e tomadas de tudo que possa ser o causador da tragédia e nada acontece, acabamos tendo de pedir socorro a alguém.

– Laura, liga pra Marina!

E é por essas e outras que a Marina nos deu um neto tecnológico de presente.

Trabalhando num jornal, acabei tendo de aprender um bocado de coisas, mas, com o passar do tempo e sem usar habitualmente, acabei me esquecendo. Lembro que precisei fazer uma tabela no Excel que virou uma coisa horrível e sem a metade das funções que o programa oferece.

“Isso! Vou pedir ao neto uma aula inteira de Excel”, pensei. “Mas antes ele vai ter de me ensinar como compartilhar mensagens que vejo no Instagram e postar coisas no Story”.

Pois é, o tempo passou, e até hoje estou longe de dominar o Insta. Eu e muitos da minha geração preferimos o Facebook, onde postamos vídeos, músicas, fotos e compartilhamos de tudo!

E, por falar nisso, me desculpem os amigos virtuais, mas nunca lembro de abrir o Messenger. Por curiosidade, enquanto escrevo este texto, fui lá conferir: trocentas mensagens sem ser lidas. Apavorada, fechei rapidinho. Deve ter mensagem ali desde o tempo da pandemia.

Redes sociais são ótimas para rever amigos, compartilhar coisas interessantes, divulgar eventos etc., etc., mas, por outro lado, são uma encrenca enorme para a nossa vida. Pior é pensar no tempo que perdemos ali, principalmente antes de dormir. Em vez de ler bons livros ou fazer coisas mais agradáveis, nos vemos presos à telinha viciante de um celular. O tempo passa, e o excesso de informações acaba nos prejudicando o sono. Hoje, tento me dedicar mais ao Kindle, minha “biblioteca virtual”, onde cabem dezenas de livros.

E, para finalizar, conto da minha última peripécia tecnológica. Entrei no TikTok!!!  Não me pergunte como, pois não faço ideia! Acho que, enquanto navegava no Face, apareceu alguma mensagem que abri de curiosidade, que perguntou se eu queria, e eu confirmei, achando que era apenas para abrir o dito, e, de repente, me vi ali, com um grande número de seguidores. “Ué! Como assim?” Lá fui eu, novamente, encher o dr. Google com minhas indagações: “O que é o TikTok? Como sair do TikTok?”

Minha amiga, rindo muito, disse para eu deixar pra lá, já que eu não ia postar nada mesmo, até porque não faço ideia de como fazer isso.

Mais uma vez, peço desculpas a quem me segue, pois não sei como entrei e muito menos como sair.

Deixei o computador em que escrevo e fui buscar minhas caixas gigantes onde guardo cartões, bilhetinhos carinhosos de marido e filhas e outras recordações. Quem sabe ainda encontro o telefone do meu neto de aluguel, que, devido à correria do dia a dia, infelizmente, nunca chamei?