SUPERAÇÃO

Volta e meia, uma reviravolta

Alex, Doka e Jonas contam como tiveram suas histórias reescritas repentinamente

Por Iêva Tatiana
Publicado em 29 de novembro de 2024 | 09:00
 
 
Linha tênue entre a vida e a morte inspirou o trio a recalcular a rota da vida

Alex Junior, um barbeiro bem-sucedido do bairro Jardim Teresópolis, nem imaginava que naquele domingo, dia 13 de dezembro de 2020, a vida dele mudaria drasticamente. Aos 24 anos, depois de passear com o irmão em um shopping de Belo Horizonte, ele foi desafiado pelo pai a fazer um “racha” de moto. A cerca de 160 km/h, acabou sofrendo um acidente que o deixou paraplégico, sem movimentos em um braço e sem a visão de um olho. 

Depois de quase sete meses internado no Hospital João XXIII, na capital, Alex teve alta e, aí, começou a entender a dimensão do que tinha acontecido. Inconformado e envergonhado, ele se recusava a sair de casa e não escondia a vontade de “ter morrido no acidente”. “Quando achei que a minha vida tinha acabado por completo, conheci a Darlayne. Uma pessoa que me motiva, me coloca pra frente”, conta, referindo-se à noiva, com quem deverá se casar em janeiro de 2025. 

A história dos dois teve início um ano e meio após o acidente. Darlayne, de 31 anos, trabalhava em uma assistência de celular e foi até a casa de Alex ajudá-lo com um aparelho. “Ela acreditou em mim quando ninguém mais acreditava. Quando demonstrou interesse, então, só não soltei foguete porque não consigo sair pra comprar”, brinca o jovem.

Guinada

Quem também viu a vida dar uma giro de 180° de uma hora pra outra foi a técnica em enfermagem Eudoxa Santos, a Doka, de 57 anos. Em agosto de 2022, ela notou uma retração na aréola de um dos seios e logo procurou um especialista. Exames de imagem mostraram a presença de um tumor, e uma biópsia confirmou que ele era maligno. “Que buraco que se abre! É assustador. Em vez de pensar em vida, a gente pensa em morte”, relembra.

Após ser submetida a cirurgia e sessões de químio e radioterapia, Eudoxa entrou em remissão (quando ocorre a redução ou o desaparecimento dos sintomas do câncer). “Depois que terminei o tratamento, virei outra pessoa. A Doka que só tinha roupas brancas e só trabalhava, passou a ter roupas coloridas e a sorrir mais. Tudo serve de lição”, reflete Eudoxa, fazendo questão de agradecer o apoio do companheiro, Jonas, da sobrinha Rayane e da amiga Irene.

Inesperado

No caso do ator e vendedor Jonas Corrêa, de 48 anos, uma situação aparentemente simples acabou se transformando em uma turbulência. Sentindo-se mal há alguns dias, mas sem poder parar de trabalhar – já que é autônomo, e as contas estavam se acumulando –, ele demorou a procurar atendimento médico. Quando o fez, descobriu que estava com apendicite e precisava ser operado. A cirurgia correu bem, mas, três dias depois, ele sentiu fortes dores e precisou voltar pro bloco cirúrgico. “Achei que não ia sobreviver. Fiquei extremamente abalado dentro do hospital. Perdi quase 8 kg e saí muito debilitado. Fiquei em uma situação extremamente difícil, e alguns amigos criaram uma vaquinha para me ajudar”, conta Corrêa.

Ainda em recuperação e sem poder trabalhar, ele pede contribuições via Pix: (31) 99913-4250.

Causa e efeito

A psicóloga Jéssica Silva ressalta que todos nós somos constantemente convidados a ressignificar a própria vida, inclusive em situações corriqueiras, como uma demissão, o término de um relacionamento ou a morte de uma pessoa querida. “Um acontecimento inesperado, de gravidade delicada, deixa o desafio ainda maior. Aqui, consigo ver três pessoas que foram confrontadas pela finitude da vida”, avalia. “O momento de reflexão sobre o que aconteceu é coerente com o princípio da psicanálise de recordar, repetir e reelaborar”, diz.

Jéssica ainda reforça a importância de um acompanhamento profissional em momentos conturbados como os que foram vividos pelos personagens desta matéria. “Algumas pessoas têm resistência em aceitar ajuda porque têm medo de cair no vitimismo. Elas se tornam resistentes para provarem a própria força, mas isso acaba sendo uma estratégia malpensada. O fazer-se forte mesmo sem ter essa força toda pode ser uma armadura para evitar que o cuidado chegue”, completa a psicóloga.