TRAGÉDIA DE BRUMADINHO

Estudo indica que há presença de elementos potencialmente tóxicos no Paraopeba

Trabalhos foram conduzidos pela Ufop; segundo pesquisadores, taxas se devem à queda da barragem

Por Sara Lira

Publicado em 03 de janeiro de 2025 | 09:00

 
 
Rompimento da barragem Córrego do Feijão, da Vale, em 2019, despejou 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos no rio Paraopeba Rompimento da barragem Córrego do Feijão, da Vale, em 2019, despejou 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos no rio Paraopeba Foto: Ronaldo Silveira

O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, ocorrido em janeiro de 2019, continua impactando o meio ambiente nas cidades por onde a lama percorreu. Um novo estudo coordenado pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), que analisou impactos em seis cidades – Betim, Mário Campos, Juatuba, São Joaquim de Bicas, Igarapé e Mateus Leme, indicou a presença de metais potencialmente tóxicos no ar e no solo. 

No caso de Betim, de acordo com a professora Dulce Maria Pereira, coordenadora do estudo, a maior parte deles foi encontrada na região do Citrolândia, em áreas próximas ao Rio Paraopeba. “Mas, segundo a pesquisa, mesmo os afluentes do rio, com as cheias, foram contaminados, distribuindo e espalhando esses rejeitos”, explica. 

O levantamento foi feito a pedido da Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas). Também contou com a participação de cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Opinião. 

No ar

Para analisar a situação do ar, pesquisadores de quatro universidades públicas utilizaram pontos referenciais ao redor do mundo com alto índice de poluição. Segundo o estudo, em um ponto de Betim no Citrolândia, dentro de uma área residencial com alta exposição à poeira externa, o índice de alumínio apresentado foi de 7,150 miligramas (mg) por quilo (kg), o que equivale a sete vezes mais do que o apresentado em área residencial próxima a indústrias no Cairo, no Egito.
 
Já quanto ao cádmio, a presença constatada foi de 8,48 mg por kg, o que significa 2,5 vezes mais do que os valores encontrados em enfermarias de Hong Kong. O cromo foi achado em quantidade de 254 mg por kg, 2,7 vezes mais do que em escritórios de Istambul, na Turquia. 

Solo

No solo também foram identificados elementos em concentrações preocupantes. O magnésio, por exemplo, estava em uma quantidade de 4,88g a cada 100g, e o sódio, de 0,65g em 100g, além de cromo, níquel, bário e outros elementos. “São os valores mais altos de cálcio e sódio encontrados nas seis cidades pesquisadas”, destaca Dulce Pereira, da Ufop. 

A quantidade de fósforo achada foi de 0,64g em 100g, e o de ferro de 43,1, em 100g. “Todos esses números estão muito acima do limite considerado máximo para absorção”, pondera a estudiosa. 

Impactos

Segundo ela, a alta concentração desses metais pode trazer prejuízos à natureza e à saúde humana. “Há uma preocupação maior com crianças e idosos, pela ingestão de alimentos produzidos nessas terras contaminadas. Outro problema é que, dependendo da concentração desses metais, eles aumentam a temperatura do solo”, afirma. 

Outro risco é o surgimento de câncer e deformações, que podem surgir nos peixes dos cursos d’água atingidos. Já a presença de ferro está associada ao surgimento de doenças respiratórias e cardiovasculares. Outros metais e metaloides também encontrados podem causar quadros dermatológicos, como o níquel, além de vômitos e diarreia, como o arsênio. 

Semmad vai pedir acesso ao estudo

O secretário municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semmad), Rodrigo José Gonçalves, reforça que um dos problemas provocados pelo rompimento em Brumadinho foi a poluição das águas: “A lama desceu pelo Paraopeba e piorou a qualidade das águas”.

O gestor explica que irá solicitar uma cópia do estudo para a Ufop para que possa ser analisado pelo corpo técnico da Semmad. “A partir do diagnóstico, serão tomadas todas as medidas administrativas e judiciais cabíveis, visando à mitigação e à compensação dos danos ambientais irreversíveis”, explica.

Segundo a analista ambiental da pasta, Cláudia Assis, Betim conta com três estações de medição da qualidade do ar, que seguem legislações estadual e nacional, e estabelecem limites para os parâmetros amostrados. “Porém, as legislações não definem limites para os metais analisados no estudo. Assim, o levantamento da universidade confrontou dados com limites definidos em normas internacionais”, diz.