Chiquinho ficou à espera de um lar durante cerca de um ano e quatro meses. Peludinho, de pequeno porte e mestiço de shih-tzu com raça não definida, ele tinha tudo para ser adotado rapidamente, a não ser por um detalhe: a deficiência. Cego por conta de maus-tratos – ele teve os dois olhos perfurados antes de ser resgatado pela Superintendência de Proteção Animal de Betim (Sepa) –, o cachorrinho acabou indo para o fim da fila. O destino do pequeno só mudou quando a auxiliar de serviços gerais Andréa dos Santos se comoveu com a história dele e resolveu adotá-lo, em novembro do ano passado.
“Está sendo uma experiência bem diferente e, ao mesmo tempo, desafiadora porque eu nunca tive um animal com deficiência nenhuma. O tempo todo, a gente busca coisas novas para fazer ele se sentir melhor”, conta Andréa. “É um desafio constante, mas é algo que tem me ensinado bastante, até porque eu tenho uma filha especial. Não há nada pra falar mal. Ele não me dá trabalho nenhum”, completa ela, que é mãe de um adolescente, de 15 anos, e de duas crianças, de 11 e 5.
O final feliz de Chiquinho destoa do de muitos outros animais deficientes que não conseguem uma segunda chance. Atualmente, a Sepa abriga cerca de 150 cães e gatos com algum tipo de deficiência, sendo as mais comuns cegueira e/ou perda de um dos olhos, amputações de patas, tetra e paraplegias. Entre as causas mais frequentes desses problemas estão maus-tratos, negligência, acidentes, brigas e complicações de doenças, segundo a veterinária da superintendência Camila Lopes Tavares.
“Os fatores externos são mais frequentes do que os congênitos, e temos mais cães nessas situações. De modo geral, esses animais levam uma vida normal ou ao menos muito semelhante à de um bichinho sem deficiência”, frisa.
A superintendente da Sepa, Roberta Cabral, reforça a importância de dar uma oportunidade aos animais com deficiência e que os tutores tenham sensibilidade para dedicar amor e atenção. “O principal é dar uma vida digna a eles. Como não são facilmente adotados, muitos acabam morrendo dentro de canis. Por isso, pedimos que as pessoas nos ajudem e adotem para que possamos ajudar outros também”, frisa Roberta.
Protetora animal independente, Silmary Assis resolveu dar uma força extra aos bichinhos com deficiência para ajudá-los a conseguir um lar. Desde o ano passado, ela distribui panfletos nas ruas, entra em ônibus, conversa com os passageiros e pendura banners pela cidade para promover a campanha “Adote um pet com deficiência”. Em 2024, quase 30 animais foram adotados por meio da iniciativa. Neste ano, cerca de 20 já ganharam uma casa e uma família.
“Essa campanha teve muita repercussão, por isso voltei com ela e pretendo seguir até abril, para ver se alcançamos o máximo de adoções”, adianta Silmary.
A empresária Vanessa do Carmo foi uma das pessoas que se sensibilizaram. Com a ajuda da protetora, ela resgatou uma cadela que foi atropelada em frente à loja dela, no Vianópolis, e teve uma pata amputada. Hoje, a Popis – como a cachorra é chamada – recebe muito amor e entrega bastante estripulia. “Chorei demais pensando que ela precisaria de uma cadeira de rodas, mas, no dia seguinte ao da cirurgia, ela já estava de pé. Depois disso, foi se recuperando cada vez mais, e, hoje, a diversão dela é a piscina aqui de casa”, diz a tutora, orgulhosa.
Para adotar um animal na Sepa, basta entrar em contato pelo número (31) 99293-2149 ou participar de um evento de adoção. Tutores de pets deficientes têm direito a consultas gratuitas e exames de imagens, além de auxílio em alguns procedimentos.