ARTE URBANA

Dri Santana, artista de Betim, executa projeto cultural em Angola

Ela participou de um programa de residência artística no país africano e pintou dois murais ao ar livre em parceria com artistas angolanos

Por Sara Lira

Publicado em 01 de fevereiro de 2025 | 14:31

 
 
Artistas angolanos com quem Dri trabalhou: Zbi (à esquerda) e Oksanna Dias (à direita) Artistas angolanos com quem Dri trabalhou: Zbi (à esquerda) e Oksanna Dias (à direita) Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

A artista betinense Dri Santana assinou dois painéis por meio do programa de residência artística “Angola Air”, em Luanda, capital da Angola. Ela inscreveu o projeto “Angola Air: Encontros e Consonâncias com a Herança Afro Mineira”, que foi aprovado pela Lei Paulo Gustavo.

A visita aconteceu entre agosto e setembro do ano passado, ocasião em que ela pintou os murais e pôde trocar experiências com artistas angolanos que também participaram do trabalho, como Oksanna Dias e Zbi. Com a primeira, Dri pintou um mural na ONG Rompe, que oferece cursos gratuitos para mulheres e crianças. 

Mural feito em parceria com Oksanna Dias. Foto: Arquivo pessoal

“A pintura homenageia as mulheres por meio dos elementos adinkra, simbolizando força e coragem, das flores de Angola e das espadas de Iansã. Oksanna é uma artista jovem e talentosa. Descobrimos que temos muito em comum”, comenta.

Já o segundo mural, feito em parceria com Zbi, foi inspirado na floresta tropical do Malange, que fica em uma das províncias de Angola. A pintura foi realizada em uma área de convivência do programa “Angola Air”. “Zbi é um artista que gosta muito da cultura brasileira e conhece várias referências da cultura afro-brasileira e do hip-hop. Foi uma surpresa boa de conhecer”, avalia.

Mural feito em parceria com Zbi. Foto: Arquivo pessoal

Ancestralidade

Para Dri, poder executar o trabalho em um país do continente africano foi uma forma de se reconectar com as próprias raízes, além de conhecer a rica cultura do país.

“Como fiz referência em minha performance, voltar para um lugar de onde vieram tantos antepassados, culturas e história, de forma digna através do meu trabalho, é gratificante”, comenta.

Além dos murais, Dri também participou de visitas a museus e exposições. “Ao fim da residência em Luanda foi realizada uma roda de conversa para os interessados, quando pude apresentar as tradições do Brasil com origem africana e como somos influenciados por Angola até os dias de hoje”, diz.

Congado

Dri atualmente mora em Cláudio, na região Oeste de Minas, mas nasceu em Betim, tendo crescido no bairro Angola. Apesar de ter passado boa parte da vida ouvindo sobre os saberes e as tradições do Congado, foi na universidade, durante o curso de artes visuais, que ela se aprofundou na história do reinado. 

“A Rua do Rosário, a principal do meu bairro de nascimento, se inicia onde há a igreja do Rosário, que é historicamente conhecida como a igreja que pessoas negras construíram para frequentar. Esses fatos são marcas-consequência da presença afro-diaspórica na tradição da cidade”, diz.

Desde 2015, ela participa do Terno de Nossa Senhora do Rosário da Comunidade do Corumbá, que pertence a um distrito de Cláudio. E, desde 2019, ela faz pinturas em aquarela e acrílica que retratam a movimentação do Congado e, ao lado do companheiro, o também artista Saulo Pico, realizou alguns murais na cidade mineira.