Reflexões para este 8 de Março | O TEMPO Betim
 
FIGURAS FEMININAS E MINHA HISTÓRIA

Reflexões para este 8 de Março

Ao refletir sobre as figuras femininas que moldaram minha história, é impossível não enxergar a grandiosidade e a resiliência que permeiam as vidas dessas guerreiras

Por Heron Guimarães

Publicado em 10 de março de 2024 | 22:09

 
 
No tecido da nossa coletividade, as mulheres desempenham um papel vital, que vai além das datas comemorativas No tecido da nossa coletividade, as mulheres desempenham um papel vital, que vai além das datas comemorativas Foto: Reprodução da internet
Heron Guimarães
Colunista de Opinião
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A nossa estrutura social, profundamente enraizada, perpetua desigualdades de gênero, impondo normas que impactam as mulheres no mundo contemporâneo. 

Da disparidade salarial à sub-representação em cargos de liderança, as consequências dessa realidade afetam a autonomia, as oportunidades e o bem-estar das mulheres. 

Combater essas normas e tentar desenvolver outras formas de enxergar o papel da mulher em nossa sociedade é crucial para construir uma realidade mais justa e equitativa.

No tecido da nossa coletividade, elas desempenham um papel vital, que vai além das datas comemorativas, como este 8 de Março. 

E, ao refletir sobre as figuras femininas que moldaram minha história, é impossível não enxergar a grandiosidade e a resiliência que permeiam as vidas dessas guerreiras, porém é necessário dizer como elas foram impedidas de viver suas plenitudes por causa de conceitos degenerativos que persistem. 

Minha avó, a matriarca, com sua sabedoria enraizada na tradição, transmitiu-me lições que transcendem gerações, mantidas com bondade extrema por minhas três “super” tias, cada qual com sua singularidade. 

Minha mãe, incansável e de personalidade forte, foi a encarnação da típica força feminina, que só pode existir em quem tem o dom de gerar, de conceber a vida. 

Seu papel transcendeu a mera maternidade, pois, viúva e com quatro crianças para criar, foi a arquiteta de sonhos familiares, mesmo não sabendo, em sua humildade, que exercia tal papel. 

As peculiaridades de minha mãe replicaram-se em minhas duas irmãs, fontes de apoio e cumplicidade. Elas, frutos de outra geração, também permaneceram reféns de uma cultura baseada no patriarcado. 

Minha jornada familiar se expandiu com a presença de minha esposa, cuja parceria é alicerçada no incentivo mútuo de décadas a fio. Mais uma vez, a relação que alimentamos desde os tempos mais juvenis também não foi suficiente para garantir a ela, no caso, as mesmas condições ou situações que me foram ofertadas ou que ofertei. 

Além do âmbito da família, as mulheres também moldaram minha caminhada profissional. Colegas de trabalho, ora chefes ora colaboradoras, líderes incríveis, deixaram marcas em meu percurso, ensinando-me um pouco e ajudando-me a descortinar preconceitos e rótulos que insistem em ser predominantes. 

A resiliência, a criatividade e a habilidade de equilibrar as múltiplas responsabilidades são características distintivas dessas inúmeras batalhadoras. Mas anos de machismo estrutural impedem uma equidade necessária.

O reconhecimento do papel das mulheres, para além de congratulações, não estaria completo sem eu mencionar minhas duas filhas. Talvez sejam elas a personificação de um futuro em que o desejado empoderamento feminino deixe de ser utópico e passe a ser a norma.

Ao tentar educá-las, procurei inspirar a autenticidade e a confiança necessárias para enfrentar os desafios que o mundo dos homens impõe. Também não foi o bastante.

Tenho comigo, portanto, que o Dia das Mulheres deve ser tomado como data de luta, mas, também, como lembrete anual de que o verdadeiro reconhecimento deve ser entendido como algo bem além da data em si. 

O que deveria valer é o compromisso diário de valorizar, respeitar e apoiá-las em todos os seus papéis, assumindo nossos mais íntimos preconceitos e combatendo as várias estratagemas de invalidação presentes no mercado de trabalho, nos lares e nas relações interpessoais. 

Ao honrar as memórias afetivas das mulheres que me subsidiaram, minha intenção vai além do agradecimento por tantas boas influências que exerceram. Ela reforça, por intermédio do exemplo delas, que estamos bem longe de uma sociedade justa. 

Graças às sete mulheres que me criaram e às três que abrem meus olhos para a realidade de discriminação, desigualdade, feminicídios, abusos e submissão, posso tentar transferir, por meio deste texto, uma mensagem verdadeira de que, dia após dia, é preciso revisitar nossos mais profundos pensamentos, reconhecer as desvantagens das mulheres em relação aos homens e avançar, nos mínimos atos, dia após dia, hora após hora. 

Que as operárias de Nova York sejam, de fato, honradas no dia dedicado a elas e que as conquistas, tão tardias, sejam bem mais aceleradas.