Missão cumprida

Por várias vezes, escutei a pergunta: “Laura, por que o Vittorio resolveu ser prefeito? Ainda mais de uma cidade com tantos problemas como Betim?”. Respondia-lhes que, depois de ter passado por um transplante e duas cirurgias complicadas, ele compreendeu, com muita clareza, que, se Deus lhe dera essa nova vida, não foi por acaso. Sabia que tinha um propósito, uma missão a cumprir e, em retribuição à dádiva recebida, deveria tentar amenizar ao máximo o sofrimento das pessoas e ser útil a quem mais precisasse. 

No início, me opus à ideia – “Vittorio, você já tem uma vida conturbada, trabalha demais, tem muitas empresas para olhar. Para que pegar essa encrenca?”, dizia-lhe já preocupada com o que viria pela frente. Com quase 70 anos, transplantado, mais de 20 empresas dos mais variados segmentos para gerir, era mesmo necessário enfrentar esse desafio? Pegar uma cidade com dívidas exorbitantes, rastros deixados por todo lado de coisas com que ele definitivamente não pactuava? 

Sabia que eu perdia meu tempo. Vittorio é obstinado e não mediria esforços para cumprir o que julgava ser sua obrigação. Até que, numa das primeiras reuniões políticas das quais participei, no ano de 2016, olhando para aquele recinto lotado, com pessoas simples e desassistidas, confesso que tive vergonha. Conhecendo a capacidade administrativa do meu marido, seu respeito à coisa pública e, principalmente, o seu coração gigante, eu não poderia ser egoísta de querer tirar de Betim a oportunidade de ela voltar a crescer, de ser respeitada, bem-cuidada. Sua missão deveria ser cumprida, e eu iria ajudá-lo no que tivesse ao meu alcance. Como ele, abracei Betim, com seus moradores, suas praças, suas ruas, sua gente simples, temente a Deus. Uma Betim que eu não conhecia bem, mas que me cativou desde o primeiro instante.

Lembro-me do dia em que, logo após sua eleição, em 2016, eu o acompanhei ao Hospital Regional. Passamos por um corredor com pessoas no chão, sem macas, sem cadeiras, sem dignidade. Naquele momento, entendi que o desafio seria bem maior do que eu imaginava. Na rede pública de saúde, faltava de tudo, inclusive medicamentos, pois as distribuidoras se negavam a fornecê-los se a dívida deixada por administrações passadas não fosse quitada pela nova gestão.

A saúde sempre foi um grande problema do país. Por mais que se faça, nunca será suficiente. Mas de uma coisa eu tinha certeza: para o Vittorio, seria prioridade. Só quem viveu quatro meses numa cama hospitalar, ao lado de aparelhos que quase nunca desligavam, sabe o quanto ela é imprescindível.

O primeiro ano foi para arrumar a casa desorganizada e com dívidas estratosféricas. Dívidas antigas, que surgiam do nada, dívidas recentes, dívidas questionáveis, como a de R$ 800 milhões requerida por uma grande empreiteira, de obras executadas há 45 anos. 

Enfim, oito anos se passaram, e ele cumpriu sua missão da melhor forma: sem remuneração, respeitando o erário público, fazendo obras, simples ou grandiosas. Quando a honestidade e a capacidade administrativa andam juntas, as coisas acontecem, levando dignidade a quem já não tinha mais esperança.

Na história de Betim, nunca houve tantas realizações como em seu mandato: 18 novas supercreches, e mais duas em construção, com capacidade para absorver cerca de 10 mil crianças (nos últimos 20 anos, haviam sido construídas somente duas, que atendiam a apenas 420 crianças cada); seis escolas integradas (em execução); 24 Unidades Básicas de Saúde (UBSs); duas Unidades de Pronto-Atendimento (Upas), dobrando a capacidade de atendimento 24 horas no município; reforma do Hospital Regional, com destaque para toda a UTI e o pronto-socorro; aumento significativo dos atendimentos a pacientes de hemodiálise; inauguração de um setor de oftalmologia, que realizou cerca de 10 mil cirurgias de catarata, colocando Betim em primeiro lugar no Estado; realização de diversos mutirões de cirurgias; aumento de 70% nas vacinações para a população e das análises clínicas de 20 mil para 90 mil por mês, bem como dos atendimentos de glaucoma.

Ele atuou na construção do Centro Materno-Infantil, de cinco capelas-velório; de seis avenidas sanitárias (uma está em obras), todas reclamadas há 40 anos pelos moradores; na revitalização e construção de dezenas de praças; na construção de um parque ecológico e projetos para abertura de mais oito e de 12 Áreas de Proteção Ambiental (Apas); na ampliação do número de farmácias populares, saltando de 24 para mais de 40; na cobertura e na iluminação de inúmeras quadras esportivas; na instalação de 15 alambrados e reforma e/ou construção de mais de 20 vestiários; no plantio de mais de 100 mil árvores; na construção de três viadutos – dois estão com obras em andamento e mais um com projeto concluído – e de cinco pontes, sendo que há projeto pronto para a execução de outras, além de uma trincheira; na entrega de mais de 50 casas populares com outras 110 em obras; e na construção de cinco bacias de detenção. 

Vittorio reformou e colocou para funcionar uma rodoviária que estava jogada às traças e que, em sete anos, fez cerca de 280 mil embarques e 350 mil desembarques, atendendo a mais de 300 destinos; construiu um teatro com capacidade para mais de 450 pessoas; a simbólica ermida Nossa Senhora do Carmo junto à charmosa e histórica praça Milton Campos e à Casa da Cultura, além de uma linda cascata; ele também promoveu projetos culturais, como o Cinema na Praça, em bairros mais carentes.

Os atendimentos nos restaurantes populares mais que triplicaram. Os moradores de baixa renda e os protetores de animais passaram a contar com o serviço da Superintendência de Proteção Animal, a Sepa, com atendimento clínico gratuito que se tornou referência no Estado.

Também na sua gestão foram trocadas 40 mil lâmpadas comuns pelas de LED, que trouxeram uma grande economia ao município; estão sendo criadas 37 usinas fotovoltaicas nas escolas, zerando a conta enérgica do sistema escolar municipal.

Ele construiu ainda a maior usina de reciclagem de material de construção do Estado e implantou ecoentulhos e 12 Unidade de Reaproveitamento de Pequenos Volumes. Revitalizou a sede do Centro Pop; distribuiu a cada ano material escolar e mochilas para todos os alunos da rede municipal (são cerca de 60 mil); criou o Centro Integrado da Saúde da Mulher e da Criança, o Cimuc; valorizou e equipou a Guarda Municipal.

Nos oito anos de sua administração, a criminalidade violenta em Betim regrediu 87%. Vittorio também criou o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial; ofertou diversos cursos profissionalizantes; recuperou o ginásio poliesportivo.

Também na sua gestão, foram criados oito distritos industriais, que já atraíram centenas de empresas de médio e grande porte. Construiu a maior e mais diferenciada Apac do Brasil. E ainda viabilizou a construção de um aeroporto para atender as inúmeras empresas que chegaram e que vão chegar.

Deixo aqui registrada apenas parte do muito que se fez e que continuará a ser feito. Afinal, Vittorio deixou 88 obras já projetadas para elevar Betim a uma das cidades mais equipadas do país. Lembrando que o município herdou mais de R$ 2 bilhões em dívidas, e Vittorio entrega a prefeitura com superávit. Ele mostrou que é possível fazer uma boa administração mesmo em época de crise, como foi a da pandemia, quando Betim se tornou referência no combate à Covid-19. 

Quem viu Betim em 2016 e olha para ela hoje não parece estar no mesmo lugar. Para o segundo mandato, Vittorio se reelegeu com 76,34% dos votos válidos, tendo sido o mais bem-votado na história do município. Reelegeu-se pra terminar sua missão na cidade que tão bem o acolheu, quando há 48 anos chegou ao Brasil. Ao seu lado nessa caminhada, sou imensamente grata a Deus e a ele, que há 38 anos faz de mim uma pessoa melhor. 

A todos vocês, um ótimo 2025, leve, feliz e promissor!