A ignorância embrutecida faz esquecer o passado, as tradições, a matriz que deu origem às gerações presentes, e não consegue apreciar pérolas. Como tudo em volta era diferente de 50, 200, 500, 1.000 e 2.000 anos atrás! Como lentamente a humanidade chegou até hoje, saindo da caverna para pilotar naves espaciais?
Olhando para uma grande árvore, não poderemos entendê-la apenas pela sua copa; trata-se de um conjunto complexo, vivo, em fase de mutação constante, um organismo que reproduz os mecanismos da vida existentes no universo, e com ele se conecta e colabora.
Um monge zen ensinou que “uma folha que cai de uma árvore na floresta da Tanzânia tem o poder de alterar todo o planeta”. Deve-se entender uma fração nano-infinitesimal, obviamente, mas isso revela que nada ocorre sem gerar um ato criador.
A árvore sabe se alimentar por um processo constante que busca e aproveita, silenciosamente, longe da vista do observador, os nutrientes e os minerais. Absorve ainda as vibrações luminosas, processa cuidadosamente o todo que a faz crescer, dar frutos e sementes, até as energias vitais, ativadas pela semente que lhe deu vida, abandonada para se transformar em nutriente do sistema.
Uma cidade entendida como um conjunto extremamente variado de inúmeras vidas e realizações – ensinou-me também meu mestre, quando felizmente era vivo e eu podia visitá-lo em Milão, onde morávamos, poderoso centro mundial de cultura, arte e desenvolvimento, laboratório da expressão de gênios do passado, como Leonardo da Vinci – possui sua origem numa grande pedra enterrada há milhares de anos, próximo ao arco de Porta Romana, na entrada sudeste da cidade por onde chega a Via Emília, construída pelo cônsul Marcus Emilius Lepidus, em 187 a.C., após vencer e subjugar o povo da Ligúria.
As concatenações de forças são infinitas e únicas, por isso na natureza não há iguais, apenas semelhantes. O meu mestre comentava que nada se dá por acaso, tudo é irrepetível; uma cidade, também, é viva e possui uma alma mutável que a mantém, que atrai e faz convergir existências, matérias, energias, retirando-a do infinito. Um “guazzabuglio fantastico di storie bizzarre”, dificilmente sondável e compreensível, bem por isso esquecido e deixado de lado.
Quantas folhas caíram, quantas vidas nasceram, quantas árvores foram plantadas, quantas iniciativas foram tomadas, quantos corpos foram enterrados?
Alguns cemitérios de seres que, enquanto vivos, pareciam insubstituíveis.
A roda do tempo e da fortuna gira, o sol nasce, desaparece e se reinventa a cada alvorada para alimentar e dar energia ao nosso planeta. Como disse Qoelet: tudo não passa de fome de vento até encontrar o caminho do Nirvana.