Durante o jantar com um amigo que vive entre Brasil e Estados Unidos há duas décadas, a conversa caiu sobre o assunto do momento, a eleição do republicano Donald Trump. Ele me deu uma aula sobre o aspecto que apenas o contato direto revela.
Segundo ele, Biden, em 2020, derrotou Trump pelos erros deste último. Trump, agora, pela mesma razão, derrotou Kamala Harris, que substituiu Biden na disputa quando o atual presidente mostrou não ter arsenal para a guerra eleitoral.
Os EUA são divididos entre progressistas, do Partido Democrata, e conservadores, do Partido Republicano.
Os democratas de Biden nos últimos quatro anos pecaram no controle da inflação, que gerou perdas acentuadas nos salários, deixando subir o galão de gasolina de US$ 2,50 para US$ 3,50, e pouco ou nada fizeram para defender a economia nacional. Esta se ressentiu e empurrou contingentes da população que vota nos democratas para o mundo das piores dificuldades.
Num mundo acelerado pelas inovações, pelo crescimento populacional, pelas tecnologias que geram facilidades ao mesmo tempo em que matam empregos, a humanidade se encontra sacudida pelas mudanças climáticas e pelas incertezas de abastecimento hídrico e alimentar. Medos e riscos se multiplicam e exasperam grande parte daquela população que flutua entre esquerda e direita. Até a abastada sociedade americana se ressente. Parece, como em quase todos os países mais avançados, que querem uma “trégua”, um descanso, sobretudo para recuperar aquela tranquilidade irremediavelmente perdida na incessante competição econômica e tecnológica que substituiu as guerras de fuzil e baioneta.
Atualmente, para ter controle dos mercados, deixou de ser suficiente possuir tecnologia bélica e um exército portentoso. Tem outras guerras de ordem econômica e tecnológica que podem ser mais tóxicas para derrubar potências.
Os EUA perderam aquele controle absoluto, próprio de "um Império Romano”, sobre o resto do mundo. Não impõem mais, como antigamente, suas decisões, que lhes davam vantagens enormes. Nota-se que o crescimento da China, não apenas populacional, mas tecnológico, aponta para um futuro bem diferente, muito mais competitivo.
Portanto, o discurso “vacilante” dos democratas, que se choca com o status de incerteza, de mutações em curso, abriu uma avenida ao conservadorismo, mais decidido na defesa dos interesses nacionais, das famílias e das tradições.
Segundo meu amigo, alguns governadores democratas liberaram a maconha, fecharam os olhos a valores tradicionais da sociedade americana, e justamente nesses Estados Trump decolou, invertendo o resultado de 2020.
Trump terá um país mais governável, pois o Partido Republicano, além do governo, ganhou a maioria na Câmara e no Senado.
A maioria dos americanos sente a necessidade de uma arrumação do país e da implantação de diretrizes mais seguras do que aquelas que o “envelhecido” Partido Democrata escolheu.
As eleições americanas confirmam uma tendência mundial desta década, o enfraquecimento dos partidos progressistas. Os avanços da humanidade em todos os campos nos últimos anos foram por demais acelerados, ainda não digeridos e assimilados.
A humanidade vem repensando seus valores e escolhas, os prós e os contras, as vantagens e as desvantagens. Assim, as tendências social-democratas, progressistas, socialistas perdem adeptos, e o conservadorismo renasce, como fênix das cinzas.
Donald Trump, com as experiências acumuladas nas derrotas e nas vitórias, parece ter uma rara oportunidade de realizar o que os EUA esperam dele. Caso acerte, ele engrossará as ondas liberais e conservadoras pelo mundo afora.