OPINIÃO

Uma homenagem negada

Sem Gianni Agnelli, ao comando da Fiat em 1976, quando se inaugurou a fábrica de Betim, em 9 de julho, Betim e Minas Gerais não seriam o que são hoje

Por Vittorio Medioli
Publicado em 01 de dezembro de 2024 | 09:29
 
 
Gianni Agnelli

Quando deputado, durante meu último mandato, que se encerrou em 2006, fiz requerimento à presidência da Câmara para realizar uma homenagem a Gianni Agnelli, aquele que determinou a chegada da Fiat a Minas. De pronto, foi negada pelo então presidente da Câmara, Aldo Rebelo, apesar de ter espaço e condições de ser realizada sem empecilhos.

Ele já tinha autorizado dezenas de homenagens a figuras de poucos méritos, mas de significação político-ideológica, sem ter gerado um emprego ou uma vantagem, um prato de comida para o povo brasileiro.

Fiquei tristemente revoltado com a negativa, mais ainda com a resposta de seus assessores de que “não admitiam homenagens a um empresário estrangeiro”. 

Mas Aldo Rebelo, com o qual sempre tive uma relação respeitosa, talvez sem entender, ofendeu a inteligência e o caráter dele mesmo, mostrando-se vesgo, preconceituoso e despreparado para a função tão importante que ocupava.

A função constitucional dele não era, e não é, ideológica, partidária. Deve-se atender sem parcialidades a pluralidade, a legalidade e a realidade nacional. Agnelli tinha todos os atributos e méritos para receber a homenagem. Um imenso benfeitor da sociedade brasileira e da mineira em especial, que eu representava.

Sua figura ultrapassa a relevância comum e marca um momento histórico para a sociedade do Estado.Tratou-se de um ato que me marcou, me fez entender quanto atrasado é o nosso país em termos intelectuais e morais.

Sem Gianni Agnelli, ao comando da Fiat em 1976, quando se inaugurou a fábrica de Betim, em 9 de julho, Betim e Minas Gerais não seriam o que são hoje. É impossível esconder essa importância e os milhões de vidas que foram positivamente impactadas pela decisão desse italiano. 

Se Rômulo fundou Roma, Júlio César a fez grande e eterna. Gianni Agnelli fincou em Betim e região centenas de milhares de empregos, de tecnologia, de tradição industrial, permitiu que se espalhasse uma nova cultura de sustentabilidade e de relações sociais. Apesar das suas raras aparições, suas escolhas e decisões foram fundamentais para uma revolução social, que beneficiou milhões de vidas. 

Sou grato a ele pela eternidade, pois eu nunca teria deixado a Itália. Ficaria lá sendo parte de uma média empresa, que três décadas depois fechou as portas. Do contrário, fundei, presidi e administrei dezenas de empresas, hoje um grupo com 8.000 pessoas empregadas, dedicado a sete ramos de negócios diferentes.

Quero deixar aqui para aqueles que sofrem mudanças e desconfiam que sejam derrotas ou catástrofes. Em primeiro lugar, não existe evento que ocorra sem permissão divina. Tudo deve ser visto com merecido e necessário para nós e o mundo inteiro.

Quando deixei a Itália, teve por lá pessoas que entenderam a migração como um castigo merecido, pois não perceberam que começava uma trajetória de sucesso que nunca imaginei, e produziu resultados centenas de vezes maiores do que aqueles que abandonei para desembarcar aqui a reboque da decisão de Gianni Agnelli.

A visão histórica dos eventos permite considerar e analisar, como nesse caso, o papel de certas pessoas, verdadeiros emissários de mudanças impactantes.

Apenas uma decisão, uma assinatura, um gesto, e parte uma reação que muda o aparentemente imutável.

Dizia também o meu saudoso sogro, Ibsen Bressane: “Imagina se esse Agnelli não tivesse passado por aqui...”.

Ele, em sua sabedoria, captava o que certos indivíduos não enxergam, ou pior, querem encobrir.