OPINIÃO

Rumo ao fracasso

Uma campanha eleitoral para prefeito deveria nascer do desejo do governo de atender demandas da população

Por Vittorio Medioli

Publicado em 14 de julho de 2024 | 12:46

 
 
Urna eletrônica disponível para 2024 Urna eletrônica disponível para 2024 Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE
Vittorio Medioli
Colunista de Opinião
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Na natureza, observa-se que o desejo vem antes da criação, sem ele não existiria coisa alguma. 

Uma campanha eleitoral para prefeito deveria nascer do desejo de um governo que atenda e satisfaça as legítimas demandas da população e seja o meio de realizar o bem da sociedade. Mais ainda o progresso, o desenvolvimento, sem prejuízo à liberdade, às legítimas aspirações de quem quer que seja.

Deveria ter um claro propósito de combater a corrupção, de dar transparência às suas ações, de privilegiar a competência, a austeridade, a experiência e de respeitar as leis e os recursos públicos.

A ideia/desejo será o vetor de força e dará sustentação ao governo em caso de vitória eleitoral. Não deve haver cálculo pessoal ou restrito, isso será o mal desagregador…

Ainda precisa dar forma a um projeto claro, firme, explicado e factível, como seria a construção de um prédio. Ou seja, deve ter cálculo, dimensionamento da ferragem, do cimento, da areia, da capacidade profissional, do projeto arquitetônico e tudo mais que se faz necessário para erguer a obra. 

Um mandato é muito curto para perder uma semana, um dia ou até uma hora, ou desperdiçar um real, sagrado em face de tanta demanda e miséria ainda existente. 

Já passaram governos que perderam meses e anos para montar uma equipe e dar-lhe funcionalidade, dilacerados por disputas mesquinhas, provocando assim o desespero da população. Também se tornam governos tapa-buracos, erráticos, ineptos e abusam da falácia e da malandragem.

A maioria necessária para respaldar as ações deve ser constituída sobre um programa, e não sobre meras demandas pessoais ou partidárias como está ocorrendo hoje, fazendo da administração pública uma patética colcha de retalhos. 
Quem entra pleiteando o poder deveria mostrar que tem capacidade e projeto para exercê-lo. Não importa ser amigo de um ou de outro, precisa ter atributos pessoais sólidos para uma tarefa complexa.

Seria ideal que o candidato escolhido tivesse conhecimento dos meandros da administração e experiência. Deveria mostrar que, em volta dele, se consolidou uma equipe de pessoas, uma força-tarefa unida num só intento, que saibam montar o mecanismo complexo do governo e fazê-lo funcionar em favor da população. 
Essas premissas, imprescindíveis a um governo, não são ainda discutidas na capital.

Correm nomes de personalidades conhecidas, não de fórmulas eficientes de governar. O que se pretende? Como realizá-lo? Com quais meios e compromissos? O vitorioso se sentará no trono e dele usará as benesses para o grupo restrito que representa?

Até agora, a preocupação não é o programa ou a construção de uma base que ofereça governabilidade. Seja quem for, como dará certo? Será um dos tantos a desfrutar do poder e de um orçamento bilionário?

Quais as metas, as correções das falhas atuais, os parceiros e as condições das parcerias? Estas serão lícitas ou entendidas como partição da pilhagem?

As dúvidas são muitas. Pode ter sucesso uma viagem sem um destino determinado? Sem um detalhamento, planejamento e propósito claro? 

Essas falhas, comuns ao país inteiro, determinam que o candidato fique condenado a pressões assombrosas, a se equilibrar na corda bamba, sem poder conduzir um projeto voltado à população, mas a tentar sobreviver enquanto poucos e nefastos fazem a festa.

Infelizmente, as regras eleitorais fragmentaram o cenário, facilitando o que deveria ser eliminado. Governos subjugados à pirataria política fracassaram, e alguns se afundaram na mais abominável corrupção.

O interesse da população passa, assim, a estar em último lugar, enquanto o interesse pessoal de exploradores e de seus bolsos dita as decisões. Vai sobrar para poucos e faltar para quem mais precisa.

Entre abrir um posto de saúde, um centro de assistência social e uma creche num bairro necessitado, o prefeito deverá gastar os recursos públicos no empreguismo, no enriquecimento de criminosos que nunca se comprometeram com nada.

O que mais se vê no Brasil afora é exatamente essa perversa trama.