OPINIÃO

Tubarão-da-Groenlândia

É preciso lançar luz sobre o caminho que leva às raízes do homem, bem anteriores ao surgimento de interesses que tiraram Adão do Éden

Por Vittorio Medioli

Publicado em 12 de janeiro de 2025 | 10:33

 
 
"Qualquer animal tem uma nobreza que lhe é concedida de graça" "Qualquer animal tem uma nobreza que lhe é concedida de graça" Foto: Pixabay/Reprodução
Vittorio Medioli
Colunista de Opinião
Colunista de Opinião
Vittorio Medioli Vittorio Medioli
aspas

O homem deveria se lembrar de suas origens divinas. Como as árvores centenárias que não enxergam suas raízes debaixo da terra, as mesmas que as sustentam e as nutrem, a grande maioria dos homens nunca ouviu falar sequer das suas raízes que o conectam ao universo. Vive sem saber.

Passa uma existência sem se perguntar de onde veio, para onde vai, qual a sua missão como parte deste universo de quatrilhões de planetas. Pensa cegamente no dinheiro, mas, ao se despedir da vida, o deixará integralmente para trás.

Imaginar, assim, que se pode estar consciente de uma ligação cósmica ou divina é uma raridade, até porque a cultura ocidental é dominada pela ciência – um meio de organizar o caos, privilegiando interesses rasteiros.

Assistimos à ciência médica formar, em prevalência, ateus doutrinados pelas faculdades caríssimas do Brasil (de graça na Europa), que se orientam estritamente pelas ciências – física, química, biológica e mais algumas.

O que confronta a ciência é varrido, em plena época quântica, jogando-se na conta de um psicólogo malpago. Ansiedades graves, também, a química trata com receituários de drogas poderosas, caras, que inevitavelmente geram dependência e lucros para os laboratórios.

Drogas que são vendidas nas farmácias destroem “legalmente” milhões de seres humanos e tiram negócios do narcotráfico. Há, infelizmente, profissionais da saúde que viciam seus pacientes e ganham com suas receitas.
 
As especialidades médicas se fragmentaram num quebra-cabeça. É difícil encontrar um médico que não precise de outro colega e de inúmeras análises. Ninguém te encaminha para um homeopata, ninguém procura a causa, que pode ser psicossomática. A medicina é ciência, alopática, e em cada bula se descobre a possibilidade de intoxicação, de efeitos colaterais e até de morrer envenenado por um descuido na dosagem. São medicamentos que são venenos, diferentemente de uma erva ou de um fruto, que no máximo podem causar indigestão.

Cientistas dinamarqueses publicaram recentemente um estudo sobre o tubarão-da-groenlândia (Somniosus microcephalus) e concluíram que ele pode viver até 512 anos. Um exemplar analisado na pesquisa datou seu nascimento, medido por testes inapeláveis, do ano de 1634 – portanto, 390 anos vividos. Ainda pelas condições apresentadas, pode-se prever mais um século de existência nas águas gélidas do Ártico.

É preciso lançar luz sobre o caminho que leva às raízes do homem, bem anteriores ao surgimento de interesses que tiraram Adão do Éden, onde vivia guiado pela natureza. Naquelas eras não havia conceito de pecado ou mal – a natureza era a regra do homem, como a selva é para um pássaro e lhe dá tudo. 
O homem tinha a inocência e a nobreza de uma criança, as quais se perderam.

As lutas para angariar poder, dinheiro e riqueza deixaram suas marcas. Destruições e misérias transformaram o que era natural e moral em pecado. Com a lei natural ou divina enterrada pelas conveniências, o homem se tornou inimigo da sua raça.

Qualquer animal tem uma nobreza que lhe é concedida de graça. 
Matusalém, filho de Enoque, viveu 969 anos, diz a Bíblia, quando não existiam laboratórios, hospitais e seringas, apenas a sabedoria da natureza para preservar a saúde.

Não estou a criticar ninguém. O que foi tinha que ser. Também não critico nenhuma religião, ciência, quanto menos métodos de ioga. Todos servem; são melhores do que nada. São degraus que se aproximam da meta, mas não são a meta. O “mísero interesse humano” tirou do homem o direito de conexão com as suas próprias raízes. Aquelas que provavelmente são a pedra filosofal dos alquimistas.

A secularização – processo de gradual abandono das formas sociais tradicionais baseadas na religiosidade – dita regras e costumes pelo interesse grosseiro. Abandonaram-se os vínculos com as raízes que sustentam a natureza.

Jesus pregou a pobreza no Ocidente, nascido de família humilde. O cristianismo sepultou a reencarnação, comum a todas as doutrinas orientais, pois se dirigia aos pobres, aos sofredores, e propor a eles inúmeras vidas, como diz Rajneesh, alongaria as penas cruéis daquela época e afastaria os míseros dos templos. As igrejas abriram, assim, a última porta do Paraíso, passando apenas por uma vida.

Buda, como Krishna, nasceu de uma família real, a mais rica do Oriente, e mostrou o caminho através de milhares de reencarnações humanas. A religião era para os ricos e cultos, que viviam entre confortos e riquezas adquiridos como méritos de muitas existências. Não tinham motivos para temer a volta à vida terrena.

Quem passa pelo Vaticano encontra os maiores tesouros de arte do planeta, como resultado de uma evolução que vai das catacumbas e dos martírios nas arenas e chega a uma sofisticação que seu Mestre nunca citou: “Sejam simples e inocentes como essas crianças…”. Ele não disse “Ouro, poder e gloria”. Mas isso, também, é justo e normal visto das alturas.

Entre as rotas seguidas pelas religiões, que vão da riqueza à pobreza, e da pobreza à opulência, o tubarão-da-groenlândia demonstra que a natureza é o cofre que guarda incríveis segredos. Se ele fosse infeliz, não conseguiria ter saúde sem medicamentos nem sobreviveria 512 anos entre as geleiras do Ártico.