OPINIÃO

Sintonia com a população

A história sempre tem novos personagens, mas os acertos e os erros permanecem os mesmos

Por Vittorio Medioli
Publicado em 19 de janeiro de 2025 | 10:45
 
 
"Desde épocas imemoráveis, valeu e continua valendo o ditado 'Vox populi, vox Dei' "

O governo Lula parece obcecado com as redes sociais e com o que chama de “fake news”, que, na maioria dos casos, são apenas críticas da oposição.

 
A meta do governo, no entanto, não parece ser combater a desinformação, mas silenciar com chicote quem não se submete ao discurso governista. Essa obsessão não é nova. O PT, historicamente, carrega a vontade de regular a mídia, uma força ditatorial de silenciá-la.

Lula, que se intitula “democrático” e “popular”, já fez o diabo para expulsar do país um repórter do “New York Times” por veicular opiniões e fatos que lhe desagradavam! Não levantou um dedo para criticar vazamentos ilegais de arquivos de Estado; aliás, já decretou sigilo de séculos nas movimentações de cartões de crédito oficiais – diga-se, públicas e de acesso garantido pela Constituição. As incongruências de ordem democrática e moral se acumulam em dezenas de episódios. A culpa é apenas de quem as produziu, não de quem as criticou.

O que vige agora? Para nós e amigos, vale tudo; para os demais, não vale nem a liberdade de opinião, que é sagrada?

 
O governo manobrou para impedir a viagem de um ex-presidente à posse de Donald Trump. O que isso pode mudar? Serve apenas para mostrar pouca consideração pela liberdade. Um absurdo incalculável em pleno século XXI.

Um governante, seja quem for, tem a oportunidade única, que ninguém mais tem, de influenciar a opinião pública com intervenções efetivas, visíveis, palpáveis. Já a quem é oposição, e a qualquer outro, resta apenas a crítica ou o aplauso.

Quando a crítica é coerente, acertada, sincronizada com o anseio popular, acontece que o governante se encontra em apuros. Desde épocas imemoráveis, valeu e continua valendo o ditado “Vox populi, vox Dei”. 

 
O confronto entre as partes é absurdamente desproporcional. Um tem toda e qualquer ferramenta para se mostrar bom, eficiente, agradável, construtivo, resolutivo e muito mais. Com isso, pode acelerar as políticas sociais e econômicas. Se não o fizer, deve assumir as consequências. Já o adversário está na plateia, assistindo.

O PT viveu décadas no papel de oposição, apenas votando contra tudo e todos, até mesmo contra a aprovação do Plano Real, o maior salto de qualidade econômica e social realizado no último século. O partido foi contra, com críticas azedas e descontextualizadas. Desfilou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, contra a negociação da dívida pública que tirou o país da inflação e o aproximou da civilização.

Lula, como oposição, se pronunciou desabridamente contra a cesta escolar, o primeiro grande programa social lançado por Fernando Henrique, alegando que “o povo se conquista pelo estômago”. 

 
Em suma, fazer oposição é uma responsabilidade que coloca em jogo a credibilidade de quem a exerce. Inverdades depõem contra quem as propaga, e hoje as respostas podem ser dadas por qualquer um em rede mundial. Vender gato por lebre, água açucarada numa garrafa de Coca-Cola desencadeia um efeito oposto ao desejado pelo autor da falsidade.

Uma experiência direta me ensinou muito a respeito disso. Eleito prefeito em 2017, recebi um governo destruído. Nada funcionava; a corrupção generalizada e o desmando haviam arrasado a cidade. Tinha, por parte de adversários derrotados (elegi-me em primeiro turno, com 61,6% dos votos, contra dez concorrentes), uma torcida aguerrida para me ver sucumbir, que apostava que não resistiria três meses em meio aos escombros de uma cidade arrasada, e comecei a obra de reconstrução. 

Nas redes sociais, dezenas de grupos com milhares de participantes, incluindo repórteres de araque e figuras tenebrosas, praticavam ataques à minha reputação, fake news com péssima imaginação, e mesmo as medidas mais saneadoras e urgentes eram pisoteadas.

 
Nos primeiros seis meses de governo, perdi horas a fio lendo essas asneiras de tamanho inconcebível, carregadas de ódio e desinformação. Deixavam-me triste, pois a obra para tirar do sofrimento e do descaso a população era “tormentosa”, como pagar dívidas bilionárias, abastecer de medicamentos e alimentos as redes de saúde e educação, e ainda dar reparo à estrutura pública, precarizada e da pior qualidade.

Pois bem, um dia a luz se acendeu. Saí de todos os grupos de redes sociais em que estava inserido e passei a ignorar a tudo e a todos. Apenas deixei um assessor para me repassar denúncias e pedidos reais. Isso, para poder dar atenção a quem precisava.

Depois de um ano e meio sem levar a sério as redes e os horrores, apenas respondendo com medidas necessárias e do agrado da população – construindo vias sanitárias, recapeando ruas, colocando em dia a iluminação pública, construindo capelas-velório e vestiários nos campos de futebol, abastecendo de medicamentos as UBSs, fornecendo merenda às escolas e iniciando dezenas de obras sociais –, consegui dar a melhor resposta às ofensas recebidas. Isso invalidou eleitoralmente os críticos. 

 
Paguei a dívida pública por completo, entreguei centenas de obras e centros de saúde e atendi a população naquilo que mais precisava: dignidade, saúde, educação, segurança e emprego. 

Não foi necessário gastar muito em propaganda para ganhar o debate com desqualificados que inventavam horrores. Fui reeleito com 76,5% dos votos, e a oposição ocupou na Câmara dos Vereadores apenas uma cadeira de 23 disponíveis.
Quem opera em favor da população e muda a vida dela não precisa de muita divulgação; as obras e as medidas são suficientes, falam por si mesmas, atingem em cheio o coração.

A obsessão governista, que não distingue o que está certo do que pode estar errado, está ultrapassando as nossas fronteiras. É patético atribuir a essas críticas a culpa da reprovação popular que atinge o governo.

 
E que absurdo o caso da mudança desastrada das normas do Pix, que viria a destelhar a economia popular para encher mais o erário.

O governo anterior, de Bolsonaro, desburocratizou e aliviou muitas obrigações e taxas, mostrando que era possível. Os lucros das estatais, agora, despencaram até se transformar em perdas bilionárias. As despesas aumentaram, e a população perdeu poder aquisitivo.

O governo de Lula toma medida que faz lembrar a Revolução Francesa, quando Maria Antonieta disse: “Se não tem pão, distribuam brioches”. O distanciamento da opinião e da realidade em que vive o povo é a causa real dos excessos e equívocos do governante, como aconteceu com a mais poderosa e imprevidente monarquia francesa, que se encerrou na guilhotina.

 
A história sempre tem novos personagens, mas os acertos e os erros permanecem os mesmos.