OPINIÃO

Sem espinhos

A mente positiva se encanta pela beleza e fragrância das flores, não se assusta com espinho

Por Vittorio Medioli

Publicado em 16 de março de 2025 | 11:42

 
 
O otimista passa a ver a beleza nos animais, na natureza, no esforço onipresente do universo à procura da perfeição O otimista passa a ver a beleza nos animais, na natureza, no esforço onipresente do universo à procura da perfeição Foto: Rodney Costa/Projeto Muriqui do Caparaó
Vittorio Medioli
Colunista de Opinião
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Você é otimista desde o nascimento? Será um afortunado. 
Os otimistas não pensam no envelhecimento, na doença ou na morte. Só na juventude, na saúde e na vida. Os negativistas deixam de viver alegremente, com confiança. Uns permanecem, apesar da idade, mais jovens, mais saudáveis, mais agradáveis e sorridentes. Cuidam da aparência, pois adoram e valorizam a beleza, a limpeza, a simplicidade, a verdade, a coerência e a consciência.

Eles procuram se dar bem com as pessoas, não criam atritos, inimizades, não atacam os outros. Respeitam, “realizam”, constroem, multiplicam não só para si, mas para todos. Aceitam os contrários e convivem com eles tranquilamente. Ostentam rejeição à exploração, à escravidão, à humilhação. Em suas ações há preocupação de não prejudicar, de evitar sofrimentos e perdas para outros. Preocupam-se em aliviar e possibilitar soluções. 

Não compram amizades, conquistam-nas. Esforçam-se por merecê-las. 

O negativo fica à espreita de oportunidades, tem um instinto de rapina, deixa sujeira em seu rastro, age como parasita, às vezes como sanguessuga. Não cria, não produz, não doa, apenas explora o que for. Mostra atitude especulativa, de usura, e nunca produtiva, pois sua consciência está adormecida. Ele se serve do esforço dos outros, fica insensível aos prejuízos, aos desacertos, até manifesta inclinação para o sadismo.

O otimista transforma e cria, é um artista. Nenhum artista de verdade jamais pertenceu à classe dos negativistas, dos egoístas; o otimismo é condição irrenunciável para ele poder dar e criar. Ele tem disposição positiva, generosidade para dar algo de agradável. Passa a ver a beleza nos animais, na natureza, no esforço onipresente do universo à procura da perfeição. 

O otimista se encanta facilmente, se apaixona, doa, ama. Nem pede para ser amado, pois percebe que o será em decorrência do merecimento, e não por outros motivos.

Ele se torna um ímã de bons e agradáveis sentimentos, tanto quanto o negativista recebe o contrário, a indiferença, a hostilidade e o abandono. São-lhe negados convites, abraços e carinhos.

Isso não quer dizer que o otimista, o altruísta inveterado, não seja atacado e perseguido. Ele atrai a revolta dos contrários, dos parasitas, dos cínicos, dos mal-intencionados. Porém, possui uma proteção natural, uma conspiração divina o poupa e faz dos ataques boas oportunidades de crescimento, de fortalecimento, de experiência. Sai ganhando de qualquer forma.

Como otimista desde sempre, acreditei já desde a infância que havia grandes protetores em volta de mim, anjo da guarda, fadas e ancestrais benévolos. Essa companhia sempre me deu confiança e calma para enxergar soluções, caminhos de vitórias.

Apesar de ter perdido em muitas ocasiões, a alma ficou serena. Sobre essas entidades, existindo ou não, sua presença na minha mente me fortaleceu e deu calma para encontrar soluções escondidas atrás das montanhas de dificuldades. Acreditei sempre que o impossível é apenas “não ver uma saída que existe em tudo”.

Acreditei na autenticidade e lealdade das pessoas, dando a elas confiança. Quando se revelaram outras, devo dizer, não me decepcionei. Lamentei por elas e vi que nesses episódios de fraquezas existem ensinamentos e oportunidades. Ao menos são exercícios para lidar com as dificuldades, gerar resistência e capacidades de superação. Quanto maiores as decepções, maiores as oportunidades de evolução.

Uma mente negativa, quando chegar perto de uma roseira, apesar de esta ter muitas flores, só contará os espinhos. Para ele, apenas os espinhos são reais, e as flores se anulam. Deixará de colher algumas para embelezar a casa e dar-lhe perfume. Já a mente positiva se encanta pela beleza e fragrância das flores, não se assusta com espinhos, apenas se protege deles ou os arranca antes de presentear com as rosas a pessoa amada.

A mente positiva considera os riscos e os enfrenta como os espinhos das rosas, nunca perderá a beleza e o perfume. Já para a mente negativa, os riscos, os espinhos, são razão de inércia, de paralisia, de afastamento, que apenas separa e enterra oportunidades.

Otimismo está atrás do amor. É como um beija-flor, que vai de flor em flor e as fertiliza. Para ele, não existem espinhos.