Vittorio Medioli

Vittorio Medioli

Empresário e político de origem italiana e naturalizado brasileiro, Vittorio Medioli está em seu segundo mandato como Prefeito de Betim. É presidente do Grupo SADA, conglomerado que possui mais de 30 empresas que atuam em diversos segmentos da economia, como logística, indústria, comércio, geração de energia e biocombustíveis, além de silvicultura, esporte e terceiro setor. Estudou Direito e Filosofia pela Universidade de Milão. Em sua coluna aborda temas diversos como economia, política, meio ambiente, filosofia e assuntos gerais.

OPINIÃO

Das nuvens ao pó

Nunca fez mal a humildade verdadeira, não a humildade de fachada, que um bom ator pode interpretar e costuma interpretar quando precisa de votos, apoios e favores

Por Vittorio Mediolo
Publicado em 24 de setembro de 2023 | 03:00
 
 

Fiquem atentos àqueles indivíduos momentaneamente afortunados que ocupam os lugares mais poderosos do Estado, considerando-os eternos.

Os caprichos do destino são infinitos, espreitam os voos dos Píndaros. O calor do sol já derreteu inapelavelmente a cera das asas de Ícaro, mesmo quando usava avião a jato.

Nunca fez mal a humildade verdadeira, não a humildade de fachada, que um bom ator pode interpretar e costuma interpretar quando precisa de votos, apoios e favores.

Nas alturas do poder, qualquer pedra que se desprende da encosta pode gerar uma avalanche, uma hecatombe de fiéis seguidores. Cada passo tem que ser firme e cuidadoso, em razão não só da meta, mas da forma que se pretende alcançá-la. O custo pode ficar alto demais.

Napoleão Bonaparte, dono da Europa inteira, morreu em Santa Helena, pobre, sozinho e envenenado. Adolf Hitler, outro dominador de meio mundo, se suicidou num bunker em Berlim. Benito Mussolini, Júlio César, Getúlio Vargas e muitos outros tiveram em comum sucessos fantásticos e fim trágico.

“Erros de avaliação”, “Crença em que as vitórias pudessem se reproduzir ao infinito”, “Confiança excessiva”, “Soberba”, “Distanciamento da realidade”, “Feitiço de poder”.

Claro que o epílogo trágico passou por um descuido. Frequentemente por grave descuido, em outros por um banal descuido ou por uma empáfia que se apoderou da razão.

O genial Maurice Leblanc coloca nos lábios de sua criatura literária, Arséne Lupin, o mais atraente, o mais habilidoso, o mais elegante, o mais astuto de todos os ladrões já concebidos, a confissão no auge do sucesso: “Em certos instantes a minha força me faz girar a cabeça. Fico ébrio de poder e autoridade”.

Ficar arrebatado pelo enlevo, de certa forma, é o “risco” maior que segue como sombra as pessoas que alcançaram grande poder em curtas temporadas e não conseguiram consolidá-lo nas circunstâncias menos favoráveis.

Faz lembrar aquele vento que atingiu de surpresa o ocupante da torre de marfim e o fez cair das nuvens para o pó mais indigesto da terra.

Tem gente que considera que ficará eternamente de um lado do balcão.

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