O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pressionado pela movimentação de inúmeros parlamentares e da sociedade civil em polvorosa, enviou, na semana passada, as primeiras medidas oficiais para enfrentar a revolução que a Inteligência Artificial (IA) vem espalhando por onde se insinua.
Tímidas e genéricas, deixam claro, porém, que o fenômeno altera os equilíbrios, modifica costumes, oferece vantagens e desvantagens à vida de bilhões de pessoas. Introduz facilidades impensáveis e riscos descomunais. Típica faca de dois gumes.
Além do popular ChatGPT, estão disponíveis mais de 20 “filhotes” da IA, que prometem solucionar problemas complicadíssimos e deixar alguns milagres ao alcance de todos, como transformar reuniões em relatórios, criar imagens de palavras e até retratos que podem levar a crer em sua autenticidade. Pode solucionar problemas complicadíssimos ou criá-los.
Uma questão que se está pondo: quantas profissões sobreviverão? Quantas terão que se adaptar a uma concorrência implacável, que não erra, imediata e ao alcance de todos os interessados?
O benefício representado pela IA terá um custo social; assim como a robotização, a digitalização provocou a perda de milhões de empregos.
A IA mexe em degraus de conhecimento muito elevados, aos quais a mente humana parece chegar apenas em raras exceções. A IA vai banalizar a inteligência humana, deixá-la em segundo plano. E, a partir da inutilização, a inteligência no homem corre o risco de se atrofiar, de diminuir, de ser submetida a uma “escravidão” implacável.
Se pode levar a soluções portentosas, pode também levar a enganos e fracassos desastrosos.
Trata-se da invasão da esfera que era dominada pelo saber humano, não apenas na quantidade e complexidade de contas numéricas, mas na formulação de textos, de estratégias, de escolhas fantásticas.
Ora, quando se pensa no bem que a IA pode fazer, nos problemas que pode solucionar, é preciso sempre lembrar que seu alcance, no lado oposto, do mal, também é sem limite. Como constrói, pode destruir.
Todas as profissões que necessitam de muito conhecimento e saber, de longos anos de estudos, experiências e práticas, terão que se submeter a essa superdotada entidade não humana.
Não apenas no diagnóstico, mas nas receitas e dietas, a IA possui um potencial de diminuir expressivamente as filas dos consultórios. Será também a inteligência atrás de robôs que realizam intervenções e cirurgias com a mesma perfeição de alguns raros especialistas.
Na escolha de decorações, formulação de ambientes, nos projetos de engenharia e arquitetura, na escolha de roteiros de viagens, na seleção de opções de compra e muito mais no futuro, a humanidade terá que se submeter à IA. Mas ainda há a gestão de sistemas complexos de planejamento e distribuição.
Nesses dias, o Senado brasileiro iniciou a discussão de medidas que regulamentem o uso da IA, de forma a garantir o proveito da tecnologia para fomentar o desenvolvimento e inibir a exploração social que ela pode permitir.
Vale prestar atenção, pois estamos na primeira tentativa de pôr ordem onde a desordem pode significar um estrago irreparável. Como disse Elon Musk nessa semana, em Londres, num Summit que discute o disciplinamento da IA, ela é uma das maiores ameaças à humanidade.