Vittorio Medioli

Vittorio Medioli

Empresário e político de origem italiana e naturalizado brasileiro, Vittorio Medioli está em seu segundo mandato como Prefeito de Betim. É presidente do Grupo SADA, conglomerado que possui mais de 30 empresas que atuam em diversos segmentos da economia, como logística, indústria, comércio, geração de energia e biocombustíveis, além de silvicultura, esporte e terceiro setor. Estudou Direito e Filosofia pela Universidade de Milão. Em sua coluna aborda temas diversos como economia, política, meio ambiente, filosofia e assuntos gerais.

O TEMPO

Para aqueles que virão

O homem possui algo que transcende a matéria, a física, a química e a mecânica

Por Vittorio Medioli
Publicado em 02 de abril de 2023 | 03:00
 
 

Numa roda de amigos, surgiu o tema “nova geração”. A conversa ficou até valendo estas notas. 

Efetivamente, as novas gerações – ou continuação da humanidade – poderão desfrutar de alta tecnologia e recursos excepcionais, entretanto a incerteza permanece sendo a única certeza do futuro.  

As civilizações do passado, justamente no melhor momento de sua trajetória, iniciaram declínios terríveis que levaram até a sua dissolução. Nos últimos 40 séculos, notamos que, após períodos de esplendor, se seguiram outros de obscurantismo e dissolução. Gerações de egípcios dominavam a construção das pirâmides e de estátuas colossais; hoje, têm dificuldade até de montar um edifício mais elaborado.

Ainda se analisa a opulência de Roma, “caput mundi”, que chegou a hospedar 1 milhão de habitantes em seu apogeu, mas em seguida encolheu para 25 mil moradores. Precisou aguardar mais de mil anos para assistir ao “renascimento” italiano. Aliás, um movimento civilizatório que pode ser tratado como uma explosão de inteligência, bom gosto, arte e engenhosidade sem precedentes.

Constata-se na história a falta de linearidade do desenvolvimento de civilizações, marcado por elevações fantásticas seguidas de decadências inexplicáveis. Servem de exemplos as civilizações chinesa, suméria, grega, romana, inca e outras que se dissolveram como abóbora de Cinderela – não apenas materialmente, mas intelectualmente, perdendo o acervo de conhecimentos mais elevados.

O crescimento e a dissolução marcam a trajetória de todos os povos que nos antecederam. A cidade peruana de Machu Picchu é testemunha. A perfeição fantástica de suas técnicas de construção permanece hoje inexplicável.

Nos últimos dias, as sumidades da tecnologia do planeta se reuniram para alertar sobre os riscos da inteligência artificial. O tema sacudiu os ambientes acadêmicos internacionais, mas, infelizmente, no Brasil, o tratamento do assunto, até agora, não passou de sensacionalismo como “guerra entre humanos e robôs”. Poderemos ter mais facilidade na vida. Entretanto, em termos de supremacia, a raça humana tem algo sublime que a diferencia e a deixa irrepetível.

Pode até ser inferior na capacidade de memorização e na elaboração de cálculos, contudo o homem, à luz da ciência ocidental, resta um enigma. O homem possui algo que transcende a matéria, a física, a química e a mecânica. Performances extraordinárias de alguns indivíduos atestam existir uma potencialidade excepcional ao alcance da raça.  

No Gênesis: “Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris”; da mesma forma, nas escrituras sagradas do hinduísmo (Vedas, Upanishads, Bhagavad-Gita, Ramayana e Mahabharata), o fenômeno que conhecemos como homem neste planeta é descrito como um conjunto de sete corpos (esferas), seis dos quais existem antes de aparecer o indivíduo físico, em carne e ossos. Quatro deles desapareceriam, e três, que compõem o corpo causal ou a verdadeira essência que construiu o corpo, seriam o dono do eterno peregrino (mônada). Os corpos inferiores: físico, etérico (energias), astral (desejo, vontade, aspiração) e mental inferior (parte cerebral) se dissolvem depois de cumprir uma missão determinada no mundo dos fenômenos (maya).

Por que, entretanto, o corpo físico seria necessário para o espírito? A ele cabe dispor a seu dono a experiência terrena para lhe possibilitar a expansão acelerada, que de outra forma seria demasiadamente longa e interminável nas esferas sutis. Ou seja, o corpo e sua odisseia se retiram de um limbo, do Éden de Adão e Eva, para forçar duras provas neste mundo, com suas lutas, sofrimentos, prazeres, amores e ódios. O universo, assim como as galáxias e o homem (pequena galáxia), está em contínua expansão. Pensar no homem cósmico é pensar num ente que deixará de ser homem para ser algo melhor na eternidade, segundo descrevem os Vedas.

Vinculado à matéria, o homem se exercita, constrange o espírito a evoluir. Um mal pode se transformar num bem evolutivo. O corpo físico é uma dádiva momentânea, um desafio que devemos tratar com todo respeito, cuidado, como um instrumento precioso. Ainda o usa por aquilo que podem conceder os seus corpos superiores, não como erroneamente age a maioria: fim em si mesmo.

As atuais gerações viverão nas próximas décadas “tornados” de desafios. Na lógica védica, a eles cabe este carma. O papel que terá de manter a humanidade, povoando esta nossa arena planetária, será desafiador. Se o passado varreu avanços, civilizações e fatos extraordinários, como a tecnologia das pirâmides, a sabedoria guardada em Alexandria e os poderes dos magos da cidade de Ur, as próximas gerações deverão desenvolver sabedoria e métodos de convivência ainda desconhecidos.

A cada ciclo, os seus desafios. Entre eles, a energia nuclear e a inteligência artificial, que representam meios portentosos e riscos brutais e colocam a humanidade sobre um fio de navalha.

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