Somos educados pelas regras e comportamentos comuns da sociedade em que nascemos.
Quando pequeno, era comum assistir à missa todos os dias da semana, pois era a regra do meu colégio, escolhido pelos meus pais. A celebração de domingo contava também com a presença deles, e eu ia com meus irmãos em traje de camisa branca, paletó azul-marinho e gravatinha listrada.
Minha mãe fumava, as amigas dela também, e, ainda, minhas tias, alguns tios, os primos todos. O cigarro era algo disseminado e onipresente, até me convencerem de que ser fumante me transformaria em um adulto. Desse momento em diante, perdi brilho no futebol, na natação, nos esportes em geral.
Tomar bebidas alcoólicas era considerado sadio. Vinhos, licores e outros tipos de destilados estavam à vista na estante da sala. Os filmes mostravam os principais atores – os bonitões e as maravilhosas – envoltos em nuvens de fumaça das marcas Camel e Marlboro, tomando drinks em todas as circunstâncias.
Passou apenas meio século, e fumar é considerado um dos piores riscos à saúde. A bebida alcoólica é catalogada como fator de dependência química, ao par de outras drogas mais pesadas. Contudo, a indústria dessas substâncias cresce e prospera, atrás da versão de que “beber socialmente não faz mal”. Isso a sociedade aceita, tolera e apoia. Apenas o Butão, fincado no Himalaia, considerado o mais feliz país do planeta, aboliu a venda e consumo de tabaco e álcool.
A sociedade ainda acredita que a alimentação das crianças deve ser onívora, ou seja, com presença de tudo, e de carne de variadas procedências. Sobre a merenda escolar (refeições servidas aos alunos nas escolas), a carne representa o maior gasto nas aquisições da Secretaria de Educação.
Tanto professores quanto pais, com raríssimas exceções, cobram esses alimentos provenientes de abatedouros. Há uma concordância em considerar atentado à saúde um só dia em que falte carne.
O Ministério da Educação defende e obriga o uso de carne: “Desde cedo, a carne deve ser inserida na alimentação infantil, portanto a sua presença na merenda escolar é importantíssima! A carne se encontra no nível intermediário da pirâmide alimentar, já podendo ser introduzida na alimentação a partir dos 6 meses de vida”.
Assim, os infantes, sem saber e sem ter possibilidade de escolha, passam a receber proteínas “tóxicas”, como se fossem um grande ganho alimentar.
Se assistirmos a documentários de boa procedência disponíveis no Prime e na Netflix, como “Dieta de Gladiadores”, e mais uma dúzia de congêneres, a versão de bondade da carne é desmentida, aliás, é contrariada com exemplos práticos chocantes. Alguns documentários mostram as barbaridades que ocorrem em vários criadouros de “proteína animal”, onde o sofrimento é banalizado e as condições de vida dos animais são brutalmente contrárias à natureza das próprias espécies.
Dizer que é prejudicial, depois dos 6 meses de vida, a falta de carnes e proteínas animais, como ovo e leite, pode ser verdade, mas, na prática, devemos reconhecer que os atletas mais bem-sucedidos da atualidade se apresentam como veganos. O sete vezes campeão do mundo de Fórmula 1, o inglês Lewis Hamilton, afirma que a transição para o veganismo não foi tão bem recebida por sua equipe, gerando preocupação em relação ao seu desempenho. Ele ouviu dos médicos que teria que “lutar para obter proteína suficiente”. No entanto, ele ganhou cinco títulos mundiais desde então. “Tenho sido mais consistente do que já fui no passado. Foi isso que fiz”, disse.
Patrik Baboumian, fisiculturista armênio-alemão, em 2011, pouco depois de ser nomeado o homem mais forte da Alemanha, tornou-se vegano e passou a melhorar sua performance. Mas ele alega, também, razões morais que deixaram de perturbá-lo como carnívoro:
“Eu percebi que, se é realmente a compaixão que move você, talvez não seja suficiente apenas parar de comer animais, mas você deveria deixar de compactuar com a exploração de animais por inteiro. Então, na verdade, você deve dar um passo adiante e tornar-se vegano”. Depois disso, acabou por se tornar recordista mundial de força, caminhando com peso de 560 kg nas costas por mais de dez metros.
Para dar um veredicto lapidar, podemos pegar entre muitos aquele que é disparadamente o mais bem-ranqueado tenista dos últimos dez anos, o sérvio Novak Djokovic, com um patrimônio de US$ 340 milhões:
“Devo grande parte da minha evolução à nutrição, até ao veganismo, adotado nos últimos dez anos”. Djokovic revelou que se sente mais saudável e com mais energia, dorme melhor, se recupera melhor e consegue se concentrar mais nas quadras, além de correr mais rápido. Aconselha: “Acho que adotar uma dieta vegana é o melhor caminho”.
Existem cuidados e, sobretudo, uma conscientização sobre a escolha, como uma pessoa que deixa o tabagismo e vive perturbada pela síndrome de abstinência, mas, em seguida, descobre que é infinitamente melhor a vida sem nicotina. Processar as toxinas da carne e dos alimentos animais gera uma sensação de saciedade que os vegetais não produzem, e disso vem a sensação de continuar com fome. Entretanto, em algumas semanas, os alimentos mais puros concedem benefícios como mais força, resistência, lucidez, sonos mais intensos, sensação de bem-estar e vigor.
Pelo lado espiritual, representa uma mutação radical, e esta apenas entende quem já a provou.