Há três anos e meio, a manicure Rosiane Gonçalves da Silva segue com a angústia de não saber o paradeiro da mãe, Maria do Carmo da Silva Gonçalves, mais conhecida como Carminha, que saiu de casa em 2017, aos 58 anos, no bairro Senhora das Graças, sem levar nenhum pertence ou documento e desapareceu. “Ela saiu de casa como se tivesse indo à padaria, com uma bolsinha de moedas e chinelo, sem falar nada com ninguém. Desde então, procuramos por ela todos os dias, mas nunca tivemos uma pista concreta sobre seu o paradeiro”, contou a manicure.
Segundo Rosiane, apesar do tempo, a família nunca perdeu as esperanças de reencontrar Carminha, que perdeu o filho mais novo em 2013 e, desde então, entrou em depressão. “É muito desesperador porque ela lutava contra a tristeza, mas não tinha inimigos, não era usuária de drogas e não tinha costume de ficar fora. Até hoje, a gente divulga a foto dela, fazemos ligações para hospitais, abrigos, ficamos de olho em pessoas em situação de rua, mas nunca encontramos nenhum vestígio”, revelou.
Em 2018, a Delegacia de Homicídios instaurou um inquérito para apurar o desaparecimento como um suposto homicídio, mas até então, não houve avanço nas investigações.
Assim como Rosiane, centenas de outras famílias vivem o drama de ter um parente desaparecido em Betim. Dados do Observatório de Segurança Pública, Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), só em 2019, a cidade registrou 280 pessoas desaparecidas, sendo 93 com idade entre 0 e 17 anos. Em 2020, o número de desaparecidos caiu 31,7%, com 191 casos relatados. Destes, 62 são menores de idade.
Novo recursos
Na tentativa de amenizar o sofrimento das famílias que passam por essa situação e reforçar as estratégias de investigações, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), em parceria com a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), lançou, na última terça-feira (25) – quando é celebrado o Dia Internacional das Crianças Desaparecidas – o Projeto de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas.
A iniciativa propõe ampliar a busca de pessoas desaparecidas, com apoio da Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG). O objetivo é que o maior número possível de pessoas busquem os Institutos Médicos Legais das 24 cidades onde o material genético será recolhido no próximo mês. “Não sabia que existia essa possibilidade e, com certeza, vou em busca desse projeto porque é uma dor muito grande conviver com esse sentimento. Eu preciso saber o que aconteceu com a minha mãe para seguir minha vida. Quando ela desapareceu eu estava grávida e é muito triste pensar que ela não pôde pegar a neta no colo, e que minha filha foi privada de receber o carinho da avó”, lamentou Rosiane.
Mutirão acontece em junho
Com o objetivo de dar respostas aos familiares de pessoas desaparecidas e auxiliar questões civis e criminais, entre os dias 14 e 18 de junho, a Polícia Civil, integrando a campanha promovida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, fará um mutirão de coleta do material genético dos familiares, que serão inseridos em um banco de dados nacional. Os interessados devem se direcionar ao Instituto Médico Legal de Betim, localizado na Amazonas, 4201, no bairro Açude.
Como funciona a coleta de DNA?
Durante o lançamento da campanha, a delegada Bianca Landau, titular da Divisão Especializada de Pessoa Desaparecida, ressaltou a importância da iniciativa lançada na última semana, que segundo ela vai ajudar a localizar pessoas desaparecidas por meio do cruzamento de dados de todo o país. “A gente já faz essa coleta de material genético de familiares de pessoas desaparecidas há alguns anos, mas essa campanha é nacional e está sendo capitaneada pela Secretaria Nacional de Segurança Pública. Nosso objetivo é estimular os familiares de pessoas desaparecidas a comparecerem aos postos médicos legais e realizar a coleta do material genético, por que isso aumenta a possibilidade de solução para os casos de desaparecimentos”, disse.
Já a chefe-adjunta da corporação, a delegada geral Irene Angélica Franco, aproveitou a ocasião para explicar como funciona o uso destes dados, onde sistema compara o material genético de todos que dão entrada no banco de DNA. “Em uma ponta nós recolhemos o material genético do familiar e na outra ponta, que pode ser em Manaus, Amapá, ou qualquer lugar do Brasil, é encontrado um corpo, ou um condenado entra no sistema prisional e a amostra destas pessoas é colocada no sistema. Então se as duas pontas derem match elas vão se encontrar, então uma pessoa desaparecida aqui pode ser encontrada em outro lugar”, explicou.
Localizados
Por outro lado, em Betim, 181 pessoas foram localizadas em 2019. Já no ano passado, o número chegou a 118. No entanto, em todo o Estado há relevante subnotificação em relação aos registros de pessoas localizadas. Assim, esse número não reflete necessariamente a realidade.
Para registrar ocorrência de um desaparecimento, o solicitante pode comparecer a qualquer unidade da PCMG ou da Polícia Militar de Minas Gerais. O cidadão também pode optar pelo registro por meio da Delegacia Virtual (delegaciavirtual.sids.mg.gov.br). O atendimento presencial na DRPD é realizado das 8h30 às 18h30.
A partir do desaparecimento, há ações como confecção de cartaz, emissão de alerta e é iniciada, de forma oficial, a investigação policial do caso. (Com Felipe Castanheira)