Não bastasse as vacinas contra a Covid-19 estarem sendo distribuídas a conta-gotas e de forma desigual, a campanha para imunizar a população contra essa grave doença, que já matou mais de 525 mil pessoas no Brasil e 1.256, em Betim, enfrenta outro desafio. Nos últimos meses, segundo especialistas, tem crescido o número de pessoas que chegam aos postos de saúde à procura de determinada marca de vacina e, quando não a encontram, se recusam a tomar a dose, retornando para casa sem estarem imunizadas.
“Esse comportamento está aumentando muito, principalmente entre os mais jovens. Na nossa unidade, uma média de 20 pessoas voltam para casa por dia sem receber a dose porque não acharam aqui o imunizante que queriam. Fora as várias ligações que recebemos. Isso tem prejudicado a proteção da população e atrasado a imunização dos grupos convocados”, afirmou Marcus Braz, gerente da UBS Alcides Braz.
A aposentada Dida Aguiar Gouveia Correa, 77, é uma das betinenses que se recusou a se vacinar porque não havia na UBSs de sua referência a marca da sua preferência quando ela foi convocada em março.
“Preferi aguardar um pouco para ver se ia dar tudo certo mesmo. Na minha época as vacinas não eram feitas tão rápido, então, fiquei em dúvida se iria mesmo funcionar. Depois vieram os relatos de efeitos colaterais fortes da AstraZeneca. Como eu estou só dentro de casa, sem receber parentes de fora desde o início da pandemia, achei que valia a pena esperar”, justificou-se a aposentada, que recebeu a primeira dose da Pfizer em junho, quase três meses depois do chamamento do seu grupo prioritário, conforme cronograma do Plano Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde.
Apesar de não ter deixado de se vacinar porque não havia no posto de saúde a marca de sua preferência, o funcionário público Geraldo Rosa de Jesus, 53, disse que gostaria de ter optado por um imunizante em detrimento do outro.
“É óbvio que eu gostaria de ter tomado a Janssen, que é aplicada em dose única. Não queria ter que esperar três meses para completar a imunização. Fora que a gente lê as coisas, sofre pelo excesso de informação. Se você pesquisar vai ver que um professor na Itália morreu depois de tomar a Astrazeneca”, contou.
Apesar da informação do betinense, uma autópsia feita no corpo do italiano já comprovou que ele faleceu em decorrência de um “problema cardíaco repentino”, sem nenhuma relação com o imunizante.
De acordo com a infectologista Izabela Voieta, esse comportamento de recusa de vacinas está associado só à desinformação, já que não há contraindicação formal de imunizantes.
“Algumas podem causar mais efeitos colaterais do que outras. Não há vacina 100% eficaz, mas todas têm eficácia. O importante é ter em mente que elas reduzem absurdamente o risco de desenvolvimento de formas graves da doença, e impactam diretamente na redução da mortalidade e no número de internações da população. Quando você toma uma vacina está se protegendo e protegendo quem está ao seu redor, cumprindo seu papel de cidadão. Enquanto não atingirmos um número maior de imunizados, os casos de infecção continuarão aumentando”, alertou a infectologista.
Fake news
A disseminação da desinformação tem sido um dos vilões para a celeridade da imunização no Brasil. Um exemplo disso são as fake news que circulam nas rede sociais de que a Astrazeneca, por exemplo, pode provocar trombose.
“Esse efeito colateral é raríssimo. As pessoas têm que entender que o vírus da Covid é o que mais provoca este evento trombótico. Não há motivo para a população escolher vacinas. O importante é estar protegido do vírus”, disse Izabela Voieta.
Apesar desse comportamento, também não faltam pessoas que entreguem o braço para a vacina disponível e se emocionem com a conquista. “Só não vim antes porque não tinha conseguido folga do serviço. O importante é estar protegido e proteger as pessoas que amamos”, disse a cozinheira Maria José Martins Vaz, 53.