Entrevista

Contra o assédio, Prefeitura de Betim criará Ouvidoria da Mulher

Novo órgão será canal exclusivo para mulheres que se sentem vítimas de qualquer tipo de violência

Por Da Redação
Publicado em 10 de março de 2023 | 00:21
 
 
Vittorio Medioli, prefeito de Betim

Em regime de cooperação com outros órgãos competentes instalados no município, será implantada em Betim, ainda neste mês, em que se comemora o Dia da Mulher, a Ouvidoria de Enfrentamento da Violência contra a Mulher. O órgão, vinculado à Secretaria Adjunta da Ouvidoria, será um canal exclusivo para o atendimento de mulheres que se sintam vítimas de violência. De acordo com o prefeito Vittorio Medioli, todos os casos serão atendidos exclusivamente por uma equipe de servidoras e serão devidamente encaminhados aos órgãos competentes e à Rede de Enfrentamento da Violência contra a Mulher do Município, que tomará as providências necessárias e dará continuidade ao acompanhamento dos casos.

O que motivou esta gestão municipal a criar a Ouvidoria da Mulher em Betim?

Primeiramente, a violência contra a mulher. Além de uma covardia, essa é, infelizmente, uma prática bastante comum. Muitas mulheres têm receio de denunciar a violência e piorar sua situação, de se expor a retaliações e a outras vinganças. A Ouvidoria da Mulher será apenas para mulheres e tomará todos os cuidados para manter o anonimato e a defesa do real interesse delas. A ideia é pôr um reparo a tanta injustiça que vem acontecendo por aí. É uma forma de estancar esse costume de violência, de abusos contra a mulher, que, a gente sabe, são muito maiores do que parecem porque elas, por medo, não alardeiam isso.

Como essas denúncias são recebidas hoje na prefeitura e como vão ser as tratativas daqui pra frente? Criada a Ouvidoria da Mulher, o que muda?

Nós temos o sentimento de que o que se manifesta através da ouvidoria normal é muito menos daquilo que pode estar acontecendo. E aí fica a dúvida se o ambiente inibe a liberdade e o direito da mulher de denunciar ou não. Uma ouvidoria especializada vai tomar medidas direcionadas exatamente à fragilidade da mulher. Portanto, ela pode ter tranquilidade. Identificada a violência, toda uma série de medidas que visam combater o que ela está sofrendo sem expô-la será tomada. Eu já fui presidente do Consórcio das Mulheres e mergulhei nesses problemas, que não são só daqui de Betim, são de toda a região metropolitana, são do Estado, são do Brasil e do mundo. Temos a Delegada Especializada de Atendimento à Mulher, que vai apurar as denúncias. A Ouvidoria vai contribuir com esse trabalho fazendo uma triagem e sugerindo pequenas medidas. Portanto, vai agir em paralelo para tomar a frente de atitudes que são coercitivas ou repressivas da violência que a mulher está sofrendo, mas com todos os cuidados para não agravar a situação dela e dar uma proteção real.

Além da criação da Ouvidoria da Mulher, como a prefeitura vai trabalhar essa cultura do assédio internamente? Será feita uma campanha?

Sim. Uma das práticas \[contra a mulher\] é o assédio. Algumas atitudes fazem parte, digamos, dos costumes, do namoro, da aproximação. Agora, quando essa aproximação se transforma em uma ameaça, em um ato violento ou constrangedor, aí realmente é assédio. O órgão vai ter o papel de coletar os problemas da mulher em geral, não só da servidora pública. Acreditamos que a presença de uma Ouvidoria já seja inibidora de práticas abusivas. Dentro da prefeitura, tivemos no passado alguns casos que nós eliminamos. Já tomamos muitas medidas no sentido de combater o mal pela raiz.

O senhor é empresário. Percebe diferenças no trato da questão entre empresas privadas e dentro do setor público?

Dentro das empresas privadas e do setor público, trabalham homens e mulheres. E também outros gêneros. É preciso salientar que, embora seja muito mais raro, existe o assédio cometido contra o homem. Nós temos todo tipo de possibilidades, em maior ou menor escala. Mas já recebemos denúncias de constrangimento em que foi proposto a uma mulher vantagem ilícita dentro da empresa, dentro do ente público. Isso é inadmissível. Tenho filhas, netas, e não gostaria que nenhuma delas fosse abordada indevidamente. Agora, elas têm toda a liberdade de namorarem, de fazerem o que quiserem. Mas serem submetidas ao constrangimento da sua liberdade de escolha, de trabalho, de vida, por um chefe ou por um homem que trabalha perto delas e as constrange ou se vinga indiretamente dispensando-as, rebaixando-as é inadmissível. Temos que eliminar essas práticas, e a melhor forma de reprimi-las é por meio da conscientização. A Ouvidoria da Mulher não poderá fazer tudo, mas fará alguma coisa para evitar problemas e melhorar a vida de muitos seres que são constrangidos, sofrem assédio de ordem moral e sexual. O órgão vai agir com muita discrição, com muito cuidado, com muita maturidade, trabalhando de maneira séria para que possa amparar as pessoas e propor medidas pacificadoras. 

A prefeitura pretende trabalhar de forma integrada com outras secretarias, por exemplo, para oferecer outro tipo de amparo a essas vítimas, como o psicológico?

Isso aí nós já temos. Para as pessoas deprimidas ou afetadas por algumas razões de desequilíbrio emocional, já existe o setor de psiquiatria e de psicologia aqui dentro. Esses meios já existem. Temos que fortalecê-los e deixá-los mais perto do evento, da denúncia, a fim de encontrarmos uma melhoria imediata para aquela pessoa que foi prejudicada, ajudando-a a superar o evento.