Um vazamento de amônia no frigorífico Ave Nova, no bairro Capelinha, no último dia 4, trouxe à tona várias denúncias de moradores de dois condomínios vizinhos à empresa. Dias antes do episódio, que ganhou grande repercussão por causa da intoxicação de funcionários, eles já haviam acionado a Polícia Militar de Meio Ambiente (PPMAmb) em função do forte cheiro da mesma substância química. O boletim de ocorrência registrado em 24 de setembro confirma um vazamento de amônia em estado gasoso devido a um pequeno furo no bloco do condensador, que foi reparado. Os problemas, no entanto, persistem há meses, conforme relatado pelos moradores.
“Todos os dias, sentimos ao menos quatro cheiros: de amônia, fezes com ração, penas queimadas e outro que não conseguimos identificar”, afirma a terapeuta Daiane Corlaitte, de 27 anos, que mora em um dos prédios próximos ao frigorífico há cerca de três meses. Ela conta que, assim como muitos vizinhos, adquiriu o imóvel sem tomar conhecimento da situação. “Vim conhecer o apartamento em um sábado, dia em que a empresa não estava funcionando”, diz.
Situação semelhante foi vivida pela autônoma Caroline Oliveira, de 31 anos, que se mudou para a região em maio último. “A gente não consegue abrir uma janela em casa nem receber visitas sem se sentir constrangido. Quem conhece o problema não compra apartamento aqui”, lamenta. Caroline também diz que alguns moradores conseguiram entrar em contato com o gerente da empresa e ficaram esperançosos de conseguir solucionar o problema. “Mas acabamos nos sentindo iludidos e frustrados, porque nada mudou”, completa a autônoma.
O vigilante Marcos Tadeu, de 38 anos, é um dos que frequentemente aciona o representante do frigorífico em busca de uma solução. Ele também foi uma das pessoas que chamaram a PPMAmb no fim do mês passado. Ele conta que, naquela ocasião, a esposa passou mal a madrugada inteira por conta do cheiro de amônia. “Dependendo da direção do vento, sentimos menos ou mais o mau odor que vem da empresa. O da ETE [Estação de Tratamento de Efluentes] é constante; já o de amônia não é sempre que chega até aqui”, relata Marcos.
Outra moradora que reitera as queixas é a cabeleireira Irani Lopes, de 45 anos, que chegou a trabalhar na Ave Nova em 2009. “Fiquei lá apenas uma semana e foi uma tortura. Eles não prezavam pela segurança dos funcionários. Hoje, convivo com o mau cheiro e o barulho constantes. Quando chega a hora do almoço, a gente até perde o apetite”, frisa Irani, que está há sete anos no local.
Além da Polícia Militar de Meio Ambiente, os moradores dos condomínios vizinhos ao frigorífico Ave Nova acionaram a Prefeitura de Betim, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e o governo do Estado. Em nota, o Executivo betinense informou que recebeu, em maio de 2021, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, denúncias sobre o forte odor oriundo das atividades da empresa. Após vistoria, foi apresentado um plano de ação que deverá ser executado pelo empreendimento até 30 de junho de 2023 “para realizar todas as adequações”.
Também em nota, o MPMG afirmou que “há um inquérito civil instaurado na Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Betim que acompanha a regularidade do licenciamento ambiental da empresa”. Segundo o texto, após o último vazamento de amônia, no dia 4, foi aberto um novo procedimento.
Já o governo estadual, por meio do Instituto Mineiro de Agropecuária, disse, em nota, que a questão é de competência da União, já que o frigorífico está registrado junto ao Serviço de Inspeção Federal do Ministério da Agricultura, e que as reclamações de mau cheiro devem ser verificadas pelos órgãos ambientais do município.
De acordo com o gerente da Ave Nova, Aguinaldo Silva, agentes fiscalizadores estiveram no local para verificarem as denúncias de moradores, “mas não foi constatada nenhuma inconsistência de mau odor da empresa, mas, sim, do esgoto proveniente do córrego próximo à praça, que gera a formação de gases”, disse o representante do frigorífico, acrescentando que estão sempre à disposição.