Grande BH

Projeto do Rodoanel resultará em caos para Betim e Contagem

Pistas vão dividir bairros ao meio, com trânsito de mais de 200 mil veículos. APA Várzea das Flores seria duramente impactada com traçado proposto pelo governo de MG

Publicado em 25 de outubro de 2021 | 23:08

 
 

O novo traçado do Rodoanel Metropolitano, apresentado nessa segunda-feira (25) pelo governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra), além de não corrigir equívocos da primeira proposta cogitada, transforma a realidade urbanística de Betim, Contagem e outras cidades da região metropolitana em um “inferno” caótico, desconstruindo, sem levar em conta a história desses municípios, um conceito de urbanização sedimentado há décadas. O projeto é orçado em cerca de R$ 5 bilhões, sendo R$ 3,07 bilhões oriundos do Estado, do valor de acordo firmado com a Vale pela tragédia em Brumadinho. 

Segundo prefeitos dessas cidades, ouvidos pela reportagem após a apresentação do projeto, o novo traçado aumenta muito os impactos na área de Proteção Ambiental (APA) Várzea das Flores, localizada entre Betim e Contagem. Isso porque descarrega nos centros urbanos dessas cidades o movimento das BRs 381 e 262. Outro ponto a ser considerado é que o governo de Minas não avaliou detalhes de uma proposta feita pelas prefeituras que resultaria em grandes oportunidades de desenvolvimento para a região e reduziria os custos da obra. 

Uma das maiores críticas ao atual traçado diz respeito ao tráfego de mais de 200 mil veículos que seria levado para as áreas urbanas de Betim e Contagem, pois o Rodoanel passaria em bairros densamente povoados, dividindo a mesma região ao meio. Segundo o secretário de Ordenamento Territorial e Habitação de Betim, Marco Túlio de Freitas dez bairros de Betim serão atingidos no traçado proposto pelo Estado, “o que causará impactos negativos muito significativos”. “São regiões populosas, que teriam bairros divididos ao meio, sem contar o trânsito pesado que seria jogado na área urbana”, diz. 

Outra crítica é que os custos com desapropriações, que poderiam ser na ordem de R$ 40 o metro quadrado, conforme projeto alternativo feito pelas prefeituras, multiplicam pelo menos em dez vezes o valor de referência, fazendo com que cada metro quadrado desapropriado possa custar até R$ 400. Segundo cálculos providenciados pela Prefeitura de Betim, o novo projeto do governo de Minas aumenta em muito o valor de construção do Rodoanel, chegando a R$ 2 bilhões de custos desnecessários. 

Várzea das Flores 
Outro ponto criticado refere-se à Área de Proteção Ambiental (APA Várzea das Flores. “A proposta dos prefeitos reduz o traçado dentro da APA em 15%. Ao definir essa proposição, o município privilegiou áreas com menor densidade. Haveria interferência na APA, mas seria em proporção menor à proposta do Estado. Além disso, o licenciamento precisa tratar dos impactos sociais, e eles são minorizados na proposta alternativa porque passa fora dos centros urbanos”, explica o secretário de Meio Ambiente de Betim, Ednard Tolomeu.

Outro ponto, segundo o secretário, é que “o município tem projetos de criação de corredores ecológicos e zonas de conexão de biodiversidade que permitirão que as margens do Rodoanel sejam protegidas, e não ocupadas”.

Proposta alternativa
Com a proposta apresentada ontem, o Estado tira do traçado os impactos que o primeiro projeto causaria na região de Casa Branca, em Brumadinho, porém, não leva em conta os malefícios que atingiriam cidades como Betim, Contagem e todos os municípios que margeiam o rio Paraopeba, principal prejudicado pelo rompimento da barragem da Vale. Por isso, as prefeituras apresentam um projeto alternativo. 

“Nossa proposta amplia o percurso do Rodoanel em cerca de 5 km, mas aproximaria as rodovias 040, 381 e 262, criando interligações, o que atrairia investimentos, resultando em desenvolvimento econômico, com diversificação do parque logístico, além de maior preservação do meio ambiente”, aponta o secretário de Ordenamento Territorial e Habitacional, Marco Túlio Freitas. “A rede de conexões entre rodovias que seria criada com o projeto alternativo impulsionaria o segmento do turismo, já que seria criada uma ligação direta entre o Inhotim e a capital”, completa o secretário. 

Outra vantagem da proposta é que ela prevê três pistas, e a do governo, apenas duas. “Em poucos anos, o Rodoanel da forma proposta pelo Estado estará completamente saturado. Uma alternativa que temos já leva isso em consideração, um projeto com três pistas e sem interferências de benfeitorias complexas, com trânsito rápido e eficiente, ausência de interseções e com acessos diretos, além de redução de custos com desapropriações e baixo impacto social”, destaca o prefeito de Betim, Vittorio Medioli. 

Pedágio pagará quase 40% da obra 
Dos R$ 5 bilhões orçados na obra do Rodoanel, quase R$ 2 bilhões virão da cobrança de pedágios – ao todo, são 100 km de extensão, com concessão por 30 anos. “Está muito claro que boa parte da obra será arcada com dinheiro de pedágios. O intuito maior é econômico”, pontua Marco Túlio Freitas. 

“O Rodoanel será feito com parte do valor do acordo com a Vale – como compensação pela tragédia em Brumadinho –, mas a verdade é que nenhum dos municípios do Médio Paraopeba, afetados pela tragédia, está sendo beneficiado com o Rodoanel – e, na proposta alternativa, essas cidades seriam contempladas”, argumenta Freitas. 

Para o prefeito de Mário Campos, Anderson Ferreira (PP), a proposta do Rodoanel deve atender às cidades da região, principalmente as mais afetadas: “Mário Campos foi muito atingida. Perdemos 20 vidas na tragédia. Além disso, temos um tráfego imenso de veículos pesados de minério. Então, é preciso buscar propostas para que toda a região seja beneficiada”. 

Resposta 
A Seinfra respondeu que o traçado proposto na APA Várzea das Flores passaria por “área ambientalmente sensível, acarretando uma pressão maior sobre a bacia”. A secretaria não respondeu sobre os impactos nas áreas urbanas de Betim e de Contagem. 

A pasta disse ainda que o governo enviou convites às prefeituras para discutir o projeto e que realizará audiências públicas.