Ultimamente, temos vivenciado uma série de polêmicas. As notícias nos jornais e na internet “bombam” com temas e discussões que, pelo que eu me lembro, antigamente eram bem menos rumorosos.
Lembro que, quando era adolescente, as mães e os amigos mais chegados diziam: “Cuidado com o fulano, ele é maconheiro…”. Depois, fui crescendo e conhecendo outros “maconheiros”. Cada um na sua, e pronto. Sempre achei uma burrice mexer com drogas; eu dava minha opinião, mas em momento algum deixei amizades de lado por causa disso.
Levávamos tudo com naturalidade, sem mi-mi-mi, sem querer nos impor, ser os donos da verdade. Tínhamos mais liberdade para contar casos, fazer piadas e rir delas.
Sei que estou caçando encrenca com esses assuntos. Me desculpem, mas esse excesso de “politicamente correto” já está passando dos limites. Hoje, temos que medir as palavras dez vezes antes de dizer qualquer coisa.
Uma atitude entre colegas de trabalho, por exemplo, um abraço sem nenhuma conotação sexual, num dia de comemorações, de repente pode virar um pesadelo caso a amiga abraçada cisme de denunciar o amigo de assédio. As relações vêm perdendo a espontaneidade. Afinal, vivemos sob lentes, sob “vigilantes” que a todo momento querem nos denunciar. De quê? Sei lá, hoje qualquer coisa é motivo para polemizar.
Na casa de minha mãe, trabalhou por mais de 40 anos uma cozinheira maravilhosa (como cozinheira e como ser humano), que era chamada por todos, inclusive por sua família e por ela própria, de Preta. Numa crônica mais ou menos recente em que carinhosamente a citei, a revisora de textos me ligou.
– Laurinha! Você vai chamá-la de Preta mesmo? Isso não pode te dar problema, não?
– Uai! Por quê? – Até então não tinha me atentado que poderia ser acusada de racismo. Isso porque chamei a Preta de Preta, como era conhecida por todos. A revisora, temerosa com o excesso de politicamente correto, me convenceu a chamá-la pelo nome que constava na sua identidade. E, desde então, a nossa querida Preta passou a ser tratada por mim como Maria do Carmo. Tenho certeza de que, se fosse viva, não ia gostar, já que sequer a sua mãe a chamava pelo nome.
Certa vez escrevi uma crônica em que eu dizia ter levado um gambá ferido ao veterinário. O bicho tinha sido mordido pelos meus cachorros.
Quando o descobri, machucado, comecei a alimentá-lo com ovos. Mas sua recuperação era lenta, estava numa situação de grande sofrimento, e decidi levá-lo ao veterinário. Logo após publicar a história, apareceu um sujeito ameaçando chamar o “pessoal do meio ambiente” para me processar.
Minha culpa? Segundo ele, a partir do momento em que citei que os meus cachorros haviam mordido o gambá, eu estava incentivando as pessoas a colocar seus cães para atacar gambás. E questionou: como eu tive o atrevimento de levar um gambá para o veterinário? Já que ele é um animal silvestre, deveria tê-lo encaminhado ao Ibama, e não ao veterinário. Tipo assim, na melhor das intenções, cometi um crime ambiental.
Pois é, a maluquice está à solta. Há exageros em tudo, tanto de um lado como do outro, seja na política, nos conceitos, na religião. Evito polemizar, respeitando opiniões contrárias, embora algumas, por excesso de radicalismo e chatice, mereçam ser deletadas das minhas redes sociais.
Voltando às polêmicas, não poderia deixar de citar dois eventos artísticos, amplamente debatidos na época, com suas estrepitosas manifestações.
Não sou expertise em artes, apenas as contemplo. A primeira vez que tomei conhecimento da exposição “Queermuseu”, em Porto Alegre, foi por uma foto no Facebook que recebi de forma bem negativa, ali, exposta como arte. Como amante dos animais que sou, a cena de estupro de uma cadela foi das coisas mais indignas já vistas. Mas tem quem goste, já que a intenção da tal arte é chocar mesmo.
Na minha opinião, a exposição não deveria ser cancelada, só poderiam ser mais claros com relação a algumas das “obras”, como a situação de vulnerabilidade e sofrimento de animais, que, na verdade, nem deveria estar exposta.
Claro que, em meio a tantas obras, também teve coisas boas, que valeu a pena serem vistas. Não me incomoda absolutamente ver retratado o amor entre dois homens. Amor é amor, amamos pessoas, e o amor é sempre belo, não importa o sexo de quem se ama.
Sempre que posso, vou ao MAM em São Paulo. Além de apreciar, gosto de tentar entender até onde vai a loucura de alguns artistas. Uma parede pintada de branco e, no centro, um buraco. Sim, um buraco feito com um pedaço de cano. Mais adiante, uma lata de tinta derramada no chão. E fico imaginando o tanto de neurônios que o “artista” deve ter gastado para criar aquilo. Quanta sensibilidade, quanta criatividade… Aí vem um crítico e escreve meia página de jornal elogiando o buraco na parede e a tinta derramada. Meu pedreiro, sem querer, já derramou várias e nunca recebeu uma linha sequer, no máximo um torra do mestre de obras.
E, assim, os entendidos saem palpitando sobre as belezas das peças indecifráveis. Sobre o “Z” pintado em vermelho, numa tela de fundo preto, que renomado pintor, em dia de “inspiração” máxima, resolveu fazer.
Que me desculpem os críticos, mas não devo entender nada mesmo, pois, sinceramente, não consegui enxergar no “Z” aquela “chama de sentimentos ambíguos extrapolando as emoções, cujo interior obscuro transcende um estado mental intenso criado subjetivamente, e não através de um esforço consciente”. Hum... Então tá. Deve ser por isso que a tela custa o olho da cara. Por causa da “essência oculta” do “Z”.
E me lembro do cara pelado no MAM… Li que o homem se colocava no lugar do “Bicho”, da artista carioca Lygia Clark. O “Bicho” original é uma peça de metal que pode ser manipulada pelas pessoas. Aí, em vez da peça, colocaram o homem. Nada contra a exposição. Agora, uma mãe levar sua filha, ainda criança, visivelmente constrangida, para acariciar a perna do “bicho”, foi sem noção demais. E todos, quer dizer "todes", achando lindo.
E para terminar: alguém se lembra das “marias-mijonas” (desculpem a linguagem chula) bancadas pelo Banco do Brasil e pela Petrobras por meio de leis de incentivo? Sim, a mesma lei que permitirá a captação de R$ 5 milhões para bancar o novo musical da Claudia Raia. Lembram não? Então se preparem para uma explosão de arte. Um grupo de mulheres, no meio do palco, começou a urinar nas próprias roupas. As calças iam se molhando aos poucos. Uma das moças, emocionadíssima com sua performance, começou a chorar. Depois, com o chão já encharcado, as luzes se apagaram.
Segundo a mostra, a ação “buscou trazer para o campo expositivo a efemeridade da performance e dos tempos fisiológicos do corpo, além de lidar com a experiência estética do coletivo e problematizar a posição da mulher no contexto atual”. E, segundo a autora, “o ato de urinar deixa de ser simplesmente uma necessidade fisiológica e passa a ser uma experiência poética”.
Pois é, arte pura! Então tá.